Nossos primeiros ancestrais chegaram nessa terra em 1530 com expectativa de vida de 7 anos. O negro escravizado sobreviveu, resistiu e lutou ao ponto de chegar a ter uma expectativa de vida parelha ao homem branco – mesmo que a gente saiba que os índices de homicídios sejam diferentes.
Essa primeira barreira a ser vencida, e me parece que foi a maior, não lhe foi dada, e sim conquistada. Os negros aqui escravizados foram ao longo de gerações conquistando o direito a vida. Assim como foi lutando, guerreando e resistindo que foi conquistada a liberdade. Da luta de Zumbi nos quilombos à força da mulher negra preservando nossas origens as escondidas nas fazendas e favelas, nada nos foi dado, nem a vida nem a abolição, tudo foi conquista.
Enfrentamos inimigos gigantes no cenário social, como Rei Dom João, Imperadores Dom Pedro I e II e Duques como o de Caxias, todos que viveram sob uma idéia de escravizar pessoas negras, que se colocavam como donos dos nossos corpos e também de nossa vida.
Sobrevivemos a políticas e leis excludentes já no cenário democrático como a dificuldade em ter acesso terra ou à proibição de estudar, dançar capoeira, cultuar nossos deuses em religiões de matriz africana e tocar samba. Assim como fomos expulsos de nossas moradias, por diversas vezes inclusive, com Pereira Passos e Rodrigo Silva nas remoções dos cortiços na região central do Rio ou Eduardo Paes no cenário de Copa e Olimpíadas e suas remoções para mega eventos, onde nosso povo foi empurrado para espaços longínquos e sem a devida estrutura, e rompendo com os laços de comunidade anteriormente estabelecidos.
Hoje chegamos a um momento em que as leis estabelecidas, em tese, não nos separam do homem branco, mesmo que a gente saiba que na sua aplicação a gente tenha outro cenário. Quero dizer ao leitor e a leitora é que; já superamos adversidades muito maior do que a figura do próximo presidente da república ou do próximo governador do Estado do Rio de Janeiro possam representar.
Não importa a mensagem que as falas deles possam trazer, todas ficam pequenas diante da análise da nossa história de luta, vivência e resistência. Os brancos podem até temer, pois tudo sempre lhes foi dado, o povo preto não, tudo o que temos é fruto de luta, resistência e conquistas. Jair Messias Bolsonaro será somente mais um dos vencidos por nós a entrar na lista acima. Em breve alguém irá escrever um texto semelhante a esse meu e irá dizer: “povo preto vocês são potência e resistência, vocês venceram Dom Pedro, Duque de Caxias, Rodrigo e Silva, Jair Bolsonaro… e também irão vencer esse novo desafio que vem pela frente…”. Pois nossa vida é sinônimo de encarar e vencer desafios, nenhum direito nos foi dado e nunca será, conquistamos antes e iremos seguir conquistando agora. O presidente da república de agora é só mais um homem branco como foram todos os outros.