De filho de traficante a criminalista: como Joel Luiz virou doutor

Joel Luiz Costa, Advogado e Colunista da ANF - Créditos: Arquivo Pessoal

O advogado carioca, criado na Favela do Jacarezinho, relatou em 13 tweets detalhes da sua história de vida transformada pela educação.

Ao contar a própria história de vida em 13 tweets, o advogado Joel Luiz Costa, 29 anos, testemunhou sobre o poder transformador da educação. Durante 30 anos, o pai dele, traficante do Morro do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, sonhava ver o filho delegado da Polícia Federal. Para isso, ele o incentivou a estudar direito.

Hoje, Joel é advogado criminal e trabalha pela garantia de direitos humanos, em especial os relacionados à população negra e pobre. O relato nas redes sociais teve mais de 15 mil curtidas e foi replicado 5 mil vezes. A história começa assim:

Somente após se compreender enquanto homem negro, favelado e estudar sobre as implicações sociais dessa vivência, ele se sentiu à vontade para tornar pública sua trajetória. “Respeito a minha história. Antes eu era só o Joel, advogado da Zona Norte, hoje, faço questão de dizer quem sou onde chego, isso me engrandece”, afirma.

A mensagem principal que o advogado desejava passar é que só a educação salva. “A diferença entre eu e meus clientes (*pessoas pobres, negras que cometeram crimes) é o estudo. Por isso sou chamado de doutor e eles continuam sendo tratados como mais um neguinho. Somos pretos, saímos do mesmo buraco, tivemos as mesmas dificuldades no início da vida”, diz.

Joel também quis desfazer a dicotomia entre bem e mal que predomina em uma sociedade onde o estereótipo do bandido é alguém “pobre, de bermuda e chinelo”.

“Tem uma música dos anos 90 que diz: nem sempre a maldade humana está em quem porta um fuzil, tem gente de terno e gravata matando o Brasil acima de tudo. Em tempos de Lava Jato é importante deixar isso claro”, explica.

“Estudar no Brasil ainda é um privilégio e isso salvou a minha vida, me salvou de entrar pro tráfico

Joel Costa, advogado

O criminalista é criador do Núcleo Independente e Comunitário de Alfabetização – Jacarezinho (Nica), voltado para alfabetização de idosos. “Nica era o apelido da minha avó, que não sabia ler e escrever. Ela ajudou a me criar e eu via as dificuldades que ela passava”, afirma.

O advogado também organiza um cursinho comunitário voltado para quem deseja fazer vestibular. “Quero usar o meu privilégio a favor da favela, para que essas pessoas possam viver em plenitude”, diz.

Joel relatou já ter recebido convite para transformar o enredo da vida real em filme e livro. O pai dele, hoje com 55 anos e vivendo no Rio de Janeiro, ainda não foi consultado sobre a possibilidade.

Ele também é colunista do site Agência de Notícias das Favelas (ANF), onde se apresenta como “advogado criminalista, favelado e pai de casal. Apaixonado pelo Flamengo, Jacarezinho e Estação Primeira de Mangueira.”

*Matéria da Jornalista Leilane Menezes ao site Metrópolis