13 mulheres são assassinadas por dia no Brasil. A cada 11 minutos, um estupro ocorre no nosso país. 60% das mães mortas durante o parto são mulheres negras. Mulheres ganham 74,5% a menos que homens. Nos dizem que o 8 de Março é um dia para se celebrar. Mas comemorar o quê? A feminilidade tóxica e domesticada das capas de revista? Os relacionamentos abusivos? Ou seriam os partos desumanos realizados na Rede Pública de Saúde?
Criado pela Internacional Socialista em 1910 e muito associado (erroneamente) ao trágico incêndio que vitimou 123 trabalhadoras em uma fábrica nos EUA poucos dias depois de sua primeira comemoração, o Dia Internacional da Mulher é uma data que existe para enaltecer a luta que nossas companheiras travam há, pelo menos, 150 anos. Ou seja, nada a ver com rosas, bombons ou descontos em títulos de auto-ajuda ou culinária em livrarias que não merecem o nosso dinheiro.
Deveria ser óbvio, porém, é sempre bom lembrar que mais que enfrentar o Patriarcado e um sistema que segue a nos oprimir, buscamos apenas a igualdade – aquilo que alguns ousam chamar de privilégio, sabe-se lá por que loucura retórica. Esta é uma luta pela garantia primordial de viver sem julgamentos, sem culpas e sem pressões oriundas do simples ato de resistência que é o ser-mulher. Esta é uma batalha que trata do mais puro direito de permanecer viva, não enquadrada enquanto objeto de segunda categoria.
Neste tão simbólico 8 de Março, todos os anos pulam os textões falando abobrinhas sobre o que é ou o que deveria significar o ser-feminino, sempre atrelando a ideia a conceitos tortos de beleza, delicadeza, sensualidade e hormônios (ah, a biologização dos afetos…). Mas aqui, meus caros, posso lhes dizer brevemente: ser mulher é difícil, é exaustivo, é uma batalha. É, desde o nascimento, tentar atender aos paradigmas de uma sociedade que não nos enxerga como iguais, é crescer ouvindo que somos inferiores, que não podemos fazer tudo, mas que precisamos odiar umas às outras para sobreviver.
Ser mulher é matar um leão por dia para sermos donas de nossos próprio narizes. É resistir para que não acabemos mortas pelas mãos daqueles em quem confiamos ou de qualquer outro que se julga possuidor de autoridade sobre os nossos corpos. É viver para superar expectativas alheias às nossas vontades e enfrentar tudo e todos para se convencer do poder e do amor que precisa possuir, antes de tudo, por si mesma (isso sem entrar nos pormenores sociais e raciais que carregam de vermelho sangue os dramas das mulheres pobres, negras, periféricas, faveladas ou sem oportunidades).
Não somos enfeites nem propriedade. Não aceitamos ser objetos. Não queremos piedade ou nos perpetuar enquanto meras peças destas engrenagens sujas que só passaram a aceitar nosso ser-no-mundo enquanto força de produção (tal qual ocorre com todas as demais minorias – não podemos esquecer nem nos iludir do contrário). Não somos obrigadas ao casamento ou à maternidade para conquistar valor na sociedade. Não sonhamos com superioridade: apenas ansiamos por respeito e dignidade.
Querem nos dar flores pela data de hoje? Guardem para os túmulos das mulheres que o machismo extermina todos os dias e que pulam na nossa cara em notícias de jornal – as mesmas que transformam feminicídio em prova de amor, estupro em romance de novela das 8. Lá, certamente, elas serão mais úteis.
Ser mulher é lutar para simplesmente existir enquanto uma.
P.S.: Convoco todas a estarem presentes no ato 8 de Março RJ – Greve Internacional de Mulheres, que acontece na Candelária a partir das 18h. Este é um momento importante para bradar não apenas contra o machismo de forma genérica, mas contra o sexismo e o conservadorismo que ganham cada vez mais força no nosso país. É pela vida das mulheres #niunamenos