“Acontece que Nêgo J. começou a ficar doente. Todo mundo vinha me falar que o homem tava em depressão, na favela pra quem não sabe, depressão é sinônimo de vagabundagem, ou até de frescura mesmo.
(…) O homem já chegava contando piada, dizendo isso e aquilo de um jeito que contaminava todo mundo, a favela podia ta sinistra, que se iluminava quando ele chegava já fazendo graça.
Tem gente que é assim mesmo, vive de palhaçada que é pra esconder alguma tristeza embutida.
Nêgo J. se enforcou.
Diz o pessoal ai, que juntou tudo, né? Desemprego, depressão, esses negócio tudo junto.
Pensando bem não era, frescura nem vagabundagem.
Com tanta vastidão de verde nesse pais, tudo aí parado, mas cheio de dono, até que não era querer muito, ter assim um pedacinho de terra com verde, pra ele de repente plantar um pouco de esperança…”
(“Nêgo J.”, Ferréz)
Essa foi a história de Nêgo Jaime, contada pelo escritor paulistano Ferréz, e evidencia um fato muito alarmante, que é a depressão nas áreas periféricas. Depressão não pode ter o estigma de “doença de rico”. Até porque o pessoal do morro sofre muito, seja por falta de grana ou pela dificuldade de arrumar um emprego. Muitos se afundam no crack, em outras substâncias ilícitas e não se tratam devidamente. É mais fácil! Um anti-depressivo não deixa de ser uma droga, mas é uma droga que tem o intuito de te deixar com melhor qualidade de vida, porque a depressão é totalmente tratável. O tratamento também precisa incluir acompanhamento psicológico, com terapia – universidades como a UFRJ oferecem atendimento de graça.
Dizem na favela que depressão é “falta de porrada” e por aí vai. Precisamos tirar esse estigma, fazer com que a galera da favela se trate. Falta informação, o preconceito é enorme e a qualidade do serviço de saúde já é ruim pro rico…
Fora que depressão mata, como aconteceu com o Nêgo. Vamos aprofundar mais a parada?
O que é depressão?
Tristeza persistente ou perda de interesse são características de depressão grave, que podem levar a uma ampla gama de problemas emocionais e físicos. Eles incluem a incapacidade de dormir ou de concentração em tarefas. Alterações do apetite, níveis de energia reduzidos e pensamentos suicidas também são observados.
As pessoas podem ter:
No humor: ansiedade, apatia, culpa, descontentamento geral, desesperança, mudanças de humor, perda de interesse, perda de interesse ou prazer nas atividades, solidão, tristeza, tédio ou sofrimento emocional
No comportamento: agitação, automutilação, choro excessivo, irritabilidade ou isolamento social
No sono: despertar precoce, excesso de sonolência, insônia ou sono agitado
No corpo: fadiga, fome excessiva ou inquietação
Na cognição: falta de concentração, lentidão durante atividades ou pensamentos suicidas
Sintomas psicológicos: depressão ou repassando pensamentos repetidamente
No peso: ganho ou perda de peso
Também comum: abuso de substâncias ou falta de apetite
Se identificou? ProcurE um médico urgente! Vamos acabar com a depressão antes que ela acabe com a gente!