O fenômeno das quedas de barreiras nas regiões de morros e córregos da Região
Metropolitana do Recife não é algo novo. Desde o final da década de 1930 e início de 1940, principalmente no governo de Agamenon Magalhães, foi colocado em prática um plano para acabar com as moradias populares. Um projeto que contou com a ajuda de governos posteriores que se empenharam em apagar as moradias populares do cenário urbano. Contudo, a falta de um planejamento urbano eficiente fez com que elas se multiplicassem, gerando outros problemas para a cidade.
A tentativa de dar uma nova cara e “modernizar” a fisionomia urbana do Recife, foi priorizada pelas esferas do poder público, legitimaram o mercado imobiliário. Um projeto que perseguiu moradias populares, já que elas eram apontadas, no discurso das autoridades e elites locais, como principal responsável pela insalubridade, decadência estética e atraso da cidade. Como resultado, uma avalanche de problemas sociais que até hoje trazem consequências diretas para a cidade. Os deslizamentos de barreiros em períodos de chuva são um dos mais urgentes.
Trazendo para os dias atuais, quais políticas públicas estão sendo desenvolvidas pelas gestões municipal e estadual para combater as quedas de barreiras nas regiões socialmente vulneráveis? São áreas que começaram a serem ocupadas a partir da década de 30 e que, até hoje, continuam sofrendo com o descaso. Em tempos de avançado desenvolvimento tecnológico, que tem transformado a forma de fazer Engenharia e Construção Civil, já é possível pensar técnicas e materiais mais sustentáveis que possam minimizar riscos e evitar a morte de pessoas que, anualmente, perdem suas vidas por deslizamentos de terras.
No inverno, algumas tragédias foram contabilizadas nas regiões que já são mapeadas e caracterizadas pelas autoridades estaduais e municipais como áreas de risco. No mês de julho, mais precisamente no dia 24, uma sequência de deslizamentos de barreiras tirou 12 vidas de moradores de córregos e morros de Olinda, Abreu e Lima e outras cidades da RMR. Mas o que o Governo do Estado fez dois dias depois desse evento? Por meio do Diário Oficial do Estado de Pernambuco, convocou uma reunião com o comitê de monitoramento das chuvas. Em apenas uma pequena coluna na capa do Diário Oficial, depois que 12 vidas tinham sido veladas pelos seus parentes, o principal agente público do Estado, que deveria está preocupado em ações rápidas e efetivas para acabar com essa realidade, apenas convoca uma reunião.
É preciso cobrar soluções e demarcar para o Governo do Estado que vidas negras, mulheres, crianças, trabalhadores, trabalhadoras da periferia importam. Como um país que quer ser uma grande economia consegue conviver e pensar grandiosamente se seu povo está morrendo porque não tem nenhuma política efetiva para acabar com problemas como os deslizamentos? Por isso, é preciso fazer a pergunta: Onde estão os muros de arrimo? A favela merece respeito.