Moradores de Curitiba, uma das cidades mais afetadas, enfrentam rodízio no fornecimento de água
O desmatamento, sobretudo na Amazônia e Pantanal, interfere diretamente na seca que tem atingido gravemente o Brasil. Chuvas abaixo da média histórica acendem o sinal de alerta em estados como São Paulo e Paraná, cuja capital Curitiba enfrenta uma das piores crises hídricas desde 1961, primeiro ano de registro do banco de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Aos moradores de Curitiba e região metropolitana foi imposto um rodízio no fornecimento de água que começou em março e foi suspenso entre 22 de dezembro de 2020 e 3 de janeiro de 2021.
Além do desmatamento de enormes áreas verdes, especialistas apontam o sistema agrícola de monocultura adotado em grande parte do território nacional como fator contribuinte para a seca e criticam o modelo de gestão dos recursos hídricos. “A água vem para a cidade e volta por esgoto, ou seja, não tem fronteiras. Precisamos pensar em como a água chega até nós e como devolvemos essa água”, diz o professor doutor em física estatística e pesquisador em hidrologia, Jefferson de Souza.
O professor do Instituto Federal de Educação Tecnológica do Paraná (IFPR) e doutor em geografia, Paulo Medeiros, ressalta que 37% das águas são utilizadas pela agropecuária, 23% pela indústria e somente 30% vão para o saneamento. “Os 37% que são destinados para a agropecuária entram de forma gratuita. Grande parte desses produtores utiliza agrotóxicos, devolve essa água em péssimo estado e não paga nada. É preciso taxar esses grandes produtores”.
Medeiros ainda lembra que a denominada “Lei das Águas” (nº 9.433/97) estabelece que, em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais. “Não estamos fazendo cumprir a lei. O sistema está priorizando produtos diante da vida”.
Matéria originalmente publicada no jornal A Voz da Favela de janeiro/2021.
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