Era uma vez… um Prefeito de Mentira pensando no seu ‘Reino Universal’ dentro de uma cidade de verdade. Uma cidade repleta de contradições e demandas a serem assistidas. Um prefeito que se mostra incomodado com a ‘Estética da Ginga’ (Paola Berenstein Jacques), ou seja a arquitetura e o urbanismo peculiar da estética da favela, que se desenvolve em becos e vielas. É possível entender a beleza do espaço territorial não somente sendo um morador, mas ter sobretudo um olhar de quem quer ver a poesia que perpassa e que faz parte já, da fotografia carioca, da sua paisagem. A professora de Geografia Drª. Mariane Biteti, uma brilhante geógrafa da UERJ, numa de suas aulas que são repletas de conhecimento e poesia, para explicar o conceito de local, me cita um samba genial do Arlindo Cruz, ‘O Meu Lugar’, quase chorei por me identificar com a espacialidade citada, garanto que o Prefeito de Mentira, caso estivesse presente aprenderia muito nesta Aula de Verdade.
O Prefeito de Mentira aprenderia que a Favela tem sua arquitetura e urbanismo próprio: ‘Ginga Urbana’, sendo assim, a Favela faz parte também da paisagem da Zona Sul e lhe completa. Mas, no entanto, lhe causa desconforto, pois foi sugerido por este prefeito que mora num mundo mágico de ilusões – no pior sentido da palavra- pintar as fachadas de uma das Favelas cariocas, a Rocinha, pois estariam “feinhas” . No entanto, a Favela em questão tem outras necessidades, assim como tantas outras Favelas: saneamento básico, segurança e iluminação. É Deus e o diabo na terra dos sobreviventes. Mas no imaginário do Prefeito de Mentira o morador de Favela é apenas mais um número, uma estatística, tratados da mesma maneira que os pacientes deitados no chão dos corredores dos hospitais municipais, como se fossem lixo humano. A saúde sucateada. A resposta está pronta na ponta da língua: as OSs (Organizações Sociais) não repassaram o dinheiro, mas vai chegar! Enquanto isso, mais dezenas de alguns pacientes morrem. É um tumor dentro de um tumor. A saúde agoniza por conta da incompetência de um Prefeito de Mentira. Viaja na maionese e de avião enquanto a cidade do Rio pega fogo e o esgoto sobe até o nosso pescoço. Nem uma campanha feita pelo seu ‘Reino Mágico Universal’ daria jeito, pois a cidade de Deus (Agostinho), diferente da cidade dos homens, se firma nas ações práticas para o indivíduo, ou seja, é arregaçar as mangas e trabalhar para amenizar, mesmo que um tantinho, a dor do carioca tão judiado. Tão sufocado, na gíria da Favela.
Era uma vez um Prefeito de Mentira… que pensou que estava no seu ‘Reino Universal’ e esqueceu que o estado é laico (sem religião ou interesses pessoais para se afirmar sua pseudo-religiosidade). “Eu sei… nostalgia não paga entrada, circo vive é de ilusão”, como diz o clássico da Música Popular Brasileira ‘ Saudades da Guanabara’. Já vivemos dias melhores e não somos tão bobos pra não entendermos o jogo que rola. Imagina você ganhar um nariz de palhaço pra desfilar em pleno Rio de Janeiro e ainda ter que pagar por isso. É mais ou menos assim que os moradores da Favela se sentem. A ‘lógica’ trazida por este prefeito do seu próprio ‘Reino Universal’ são promessas revestidas de um ar manso e cordial, maus políticos são assim, lembrei-me de outro clássico da MPB: “O meu pastor não sabe o que eu sei… da arma oculta na sua mão”. A má administração do dinheiro público mata pessoas nas filas. A má administração do imposto é tão letal quanto um tiro de fuzil, pois mata pessoas a curto, médio e longo prazo. Por isso alguém escreveu algo do tipo, um homem com uma caneta na mão pode fazer mais estragos do que um homem com uma metralhadora, lembro-me que foi no livro de Mario Puzo em ‘O Poderoso Chefão’.
Era uma vez… um Prefeito de Mentira que esqueceu de exercer seu poder executivo, ou seja, deixou de administrar o ‘Reino de Verdade’ para implantar seu ‘Reino de Mentiras’. Agora deu ruim, pois como foi dito, “extrapolou os limites do razoável” ao usar o espaço público para promover encontros secretos que intencionavam privilegiar seu ‘Reino’, embora saibamos que ele não é o Rei do seu próprio tabuleiro, sendo ele apenas um peão. Se seguisse a lógica do ‘Reino de Verdade’, ele tentaria realizar sua obrigação presente na Constituição Brasileira, que é: Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
O ‘Reino de Verdade’ se preocupa com todos.
Era uma vez… um Prefeito de Mentira.