O vestibular é mais que uma prova, é a escolha do possível caminho que o vestibulando irá percorrer. Ontem, 24 de maio celebrou-se o dia do vestibulando, período que para muitas pessoas representa um momento de pressão, devido a ansiedade e constante incerteza. Geralmente os vestibulandos estão numa faixa etária de 17 a 24 anos, na transição do fim do ensino médio para um ingresso nos cursos superiores.
Os primeiros vestibulandos surgiram no início do século XX, quando o número de interessados em ingressar em cursos superiores teve um crescimento, resultando na criação de processos seletivos. A partir de 1911 os vestibulares se tornaram obrigatórios.
Entre as décadas de 10 e 20 foram criadas as primeiras universidades no Brasil, como a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e na década de 30 foi criada a USP (Universidade de São Paulo) uma das principais instituições da América Latina. A Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest) surgiu em 1976, a partir da demanda pelos cursos da USP. O primeiro vestibular da Fuvest reuniu mais de noventa mil vestibulandos, um feito memorável até para essa década.
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) hoje é a principal forma de ingressar nas Universidades. Através dele os estudantes podem tentar uma vaga nas Universidades Federais através do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), bolsas em Faculdades privadas pelo Programa Universidades para todos (Prouni) e Programa de Financiamento Estudantil (Fies). O Enem tem 180 questões e é uma das provas, senão a principal e mais cansativa que existe, dividindo-se em questões objetivas de Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Ciências Exatas e Linguagens e Códigos.
O Professor de História Paulo Roberto diz que a prova do Enem é de resistência, como uma maratona, onde o aluno tem que identificar os conteúdos que estão na prova. Para Thamiris Medeiros, 19 anos, moradora de Manguinhos, um dos maiores empecilhos é a falta de professores e a violência nas áreas de risco. Ela conta que estuda através de vídeo aulas, além de frequentar um pré-vestibular comunitário, um dos fatores que influenciou no aumento de egressos no ensino superior das classes menos favorecidas. Quer tentar uma vaga no curso de biomedicina, por amor a ciência e por pensar em ajudar o próximo. É a primeira vez que irá fazer o vestibular.
Já para Victor Hugo Cabral, 18 anos, morador do Jacarezinho a primeira experiência foi conturbada. O jovem reside com a mãe, vó e mais cinco irmãos. “Me preparei no meu próprio colégio, estava em ano de conclusão do ensino médio e também preparei no pré-vestibular comunitário do Colégio Clóvis Monteiro. Posso dizer que foi uma boa experiência prestar vestibular, pois se você não passa na primeira você com certeza vai pegar experiência pra próxima tentativa. Durante o ano, automaticamente me coloquei uma pressão inimaginável por querer passar pra faculdade e isso atrapalhou meu desempenho. Infelizmente, não consegui minha tão sonhada vaga no ensino superior. Mas não desisti, neste ano estou tentando melhorar meu desempenho pra prestar o Enem. Hoje, a questão social que vivo influencia muito. Estou desempregado, mas quando pinta um trabalho eu faço bico, sempre quando posso ajudo colocando dinheiro em casa. A realidade de um jovem favelado não é fácil, as vezes me pergunto quantas vezes fiquei em casa perdendo aula por conta de tiroteios, mas não pode desistir né? Tenho um sonho de cursar geografia e me tornar professor, porque gostaria de ajudar os jovens, para formar sonhadores como eu.” Disse.
O pré-vestibular comunitário da ANF existe desde agosto de 2017, a coordenadora e professora de Geografia Renata Seade deixou sua dica: Quem vai prestar vestibular tem que tentar estudar todo dia, pelo menos um pouco. É bom estar sempre atualizado, acompanhando Jornais e blogs, de preferência de correntes políticas diferentes. Recomendo também refazer as provas antigas pois dá pra sentir mais ou menos como o conteúdo é cobrado e o estudante pode perceber o que precisa estudar mais. Já para Karine Assis, Professora de Biologia, é importante manter em mente o motivo que o levaram a buscar esse caminho, porque mesmo com a caminhada pesada a recompensa é válida.
A rotina de conciliar trabalho e estudos é um denominador comum para maioria dos jovens moradores de periferias, como Dalene Alves Costa, 24 anos, moradora de Santo Amaro no Catete, que pretende cursar Psicologia. Ela conta que seu maior empecilho é se dividir entre trabalho e estudos, mas frequenta o pré-vestibular da ANF em busca do seu sonho. A 35 km de distância mora Paola Leandro Bacarelli, 24 anos, em Anchieta que almeja cursar direito pra fazer prova pra concurso federal. Ela trabalha em um supermercado e é cabeleireira, mas mantém o sonho vivo.
Como disse Edi Rock do grupo de Rap Racionais Mc’s, que teve o disco sobrevivendo no inferno de 1997 escolhido como leitura obrigatória pro vestibular de 2020 da Fuvest-SP “É necessário sempre acreditar que o sonho é possível, que o céu é o limite…”.