No livro 1984 (1949), de George Orwell (1903 –1950), que nos últimos tempos tem estado na moda aqui no Brasil, o governo trabalha sistematicamente mudando o dicionário, diminuindo, abolindo e transformando as palavras, assim mexia no vocabulário da população. E, consequentemente, abalava, para sempre a estrutura cognitiva, ou seja, o intelecto. No final, as pessoas estavam perdendo o senso crítico, o pensar complexo, a identidade, a criatividade e a volição. Tornando-se apáticos e manipuláveis.
Acabo de descrever o que pode acontecer com um povo que despreza a leitura, a literatura. Mas, um povo não ama ou despreza naturalmente. Lhe é ensinado. Os meus professores de Análise do Comportamento ficariam orgulhosos de mim agora. Tudo é aprendido. Mas, isso é tema para um próximo artigo. Retornando para o assunto central, um povo que não gosta, que não “consome” literatura é um povo que já foi roubado na sua maior riqueza, o pensamento.
No entanto, nós temos de ser cautelosos com a questão da leitura. Pois acadêmicos respeitados da pedagogia nos chamam atenção, para uma coisa, que jamais deveria ser ignorada, que a leitura, não pode ser somente a decodificação de signos e símbolos predefinidos, como as letras de um alfabeto. Mas, uma leitura ampla, profunda e constante da realidade, do homem, do mundo, dos sentimentos, das relações e das emoções. Isso se dá com uma educação crítica, criativa e afetiva. Porque se lermos sem criticidade, contextualização e liberdade de pensamento, ficaremos como Funes, o memorioso (personagem de um conto do escritor argentino, Jorge Luis Borges (1899 –1986)), acumulava um vasto conhecimento, mas, não o abstraía, o transformava em algo novo ou punha em prática, apenas o repetia.
Estou dizendo tal coisa, porque a notória frase: “Um país se faz com homens e livros.”, do eugenista Monteiro Lobato (1882 –1948) nos emociona, e muitas vezes, a repetimos em um dia como esse, o Dia Internacional da Literatura. Porém, nunca paramos para nos questionarmos: Que homens são esses? E que livros são esses? Que país queremos fazer? Homens como Monteiro Lobato, que queria criar um Brasil puramente branco? Livros, como Mein Kampf, que prega a superioridade de uma raça sobre outra?
Com certeza, temos de repensar sempre os homens e os livros que faz um país e o país, que eles fazem.
Hoje, no Dia Internacional da Literatura, devemos celebrar essa arte vista e tratada como elitizada, apartada do povo. Mas, ela, que também, constrói um povo e a psique do mesmo. E o povo, também constrói a literatura, que o constrói. É uma relação dialética. É como uma das máximas da Psicologia Social, que diz, que o homem é produto e, ao mesmo tempo, produtor da história.
Então com isso, quero e preciso dizer, que a humanidade necessita da literatura e a literatura da humanidade! Contudo, invariavelmente repensando (e refazendo) como cada um desses elementos se faz, refaz, cria e se recria.
Parafraseando o revolucionário José Martí (1853 –1895): A literatura liberta. A literatura deve expandi, abri a cabeça e alma, não o contrário.
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