Subindo nas pesquisas, que apontam para uma vitória, a candidata Dilma Rousseff concedeu uma entrevista para a ANF, com perguntas feitas por moradores de favelas e lideranças comunitárias.
Hoje, nós negros pobres e favelados, herdamos as favelas. Nós nos sentimos órfãos de mãe desde a morte de DANDÁRA, esposa de Zumbi dos Palmares. O Movimento Popular de Favelas (MPF), está feliz e esperançoso, pois vimos ressuscitar uma nova mãe, tão guerreira e guerrilheira quanto Dandára. Queremos, entretanto, a volta da escola de tempo integral para as nossas crianças e adolescentes. Podemos contar com isso?
*Rumba Gabriel*, fundador do MPF e morador de Jacarezinho.
Dilma: Muito obrigada pela honrosa comparação com Dandara, uma das grandes mulheres de nossa história. Espero, se for eleita, fazer um governo à altura desta comparação, melhorando a vida de todo nosso povo, transformando a realidade das favelas brasileiras, acabando com a miséria.
Para isso, uma das minhas principais preocupações é a educação. Temos de investir na qualidade da educação pública para que nossas crianças e jovens tenham oportunidades iguais. Pretendo fazer um governo que enxergue a educação como um todo, da creche à pós-graduação. Um governo que valorize os professores, garantindo remuneração digna e formação continuada.
Está entre minhas propostas ampliar a educação em tempo integral. No Governo Lula, criamos o Programa Mais Educação, levando o ensino integral a 10 mil escolas brasileiras. No meu governo, caso eu seja eleita, pretendo chegar a 32 mil escolas urbanas, levando atividades de cultura, lazer e esportes, a milhões de crianças e jovens, reforçando sua formação cidadã.
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Dilma, você foi escolhida pelo presidente Lula para estar à frente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), projeto que trouxe muitos empregos para os pobres do Rio de Janeiro e de todo o Brasil. Ganhando as eleições, você vai dar continuidade a esse projeto tão importante?
*Leonardo Rodrigues Lima*, presidente da Associação de Moradores da Rocinha.
Dilma: Essa é uma ótima pergunta, Leonardo. Quando estive aí na Rocinha, tive a oportunidade de ver de perto o bem que o PAC faz para milhares de comunidades brasileiras que antes sofriam com a falta de investimento. A satisfação que os moradores dessas comunidades demonstram me deixa muito orgulhosa de ter estado à frente do PAC quando era Ministra Chefe da Casa Civil do Governo Lula.
Caso seja eleita, vou levar adiante o PAC 2, que prevê investimentos em toda a infraestrutura logística e energética que nosso país precisa para continuar crescendo.
Mas o que mais me orgulha no PAC 2 é o investimento que ele vai fazer em infraestrutura social e urbana. Construiremos dois milhões de moradia destinadas, principalmente, para a população de baixa renda, com a segunda etapa do Minha Casa, Minha Vida.
Também construiremos seis mil creches; 800 praças com espaços de lazer, cultura e esporte; 500 Unidades de Pronto Atendimento; 8,6 mil Unidades Básicas de Saúde; 2,8 mil postos de polícia comunitária. Investiremos R$ 57,1 bilhões em obras de saneamento, de transporte urbano, de prevenção em áreas de risco, com contenção de encostas e controle de enchentes.
Tudo isso se traduz em uma coisa – mais qualidade de vida e dignidade para o povo que mora nas comunidades mais pobres e mais deficientes em infraestrutura de nosso país. Isso é indispensável para construirmos uma comunidade mais justa e igualitária, que acolha a todos e a todas.
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Eu quero entender quais são os critérios de avaliação para decidir qual comunidade deverá receber determinada política pública. Por exemplo, a comunidade onde eu moro não é conhecida, apesar de fazer parte do Complexo de Manguinhos, e não foi contemplada com obras do PAC embora seja muito carente. De que forma serão atendidas as comunidades
que não foram incluídas no PAC?
*Woaiza Kelly*, comunicadora social moradora da Vila São Pedro
Dilma: Cara Woaiza Kelly, sua pergunta é realmente muito importante e pertinente. O PAC retomou os investimentos em infraestrutura em nossas comunidades mais pobres, levando moradia digna, com saneamento básico, educação e saúde para lugares em que antes o Estado não chegava. Sabemos que ainda há muito por fazer, mas precisávamos começar por algum lugar. Assim, decidimos que a seleção das comunidades que receberiam os investimentos seria feita em parceria entre o Governo Federal, os Estados e os Municípios. Estados e municípios são responsáveis por elaborar os projetos, que depois são discutidos com o Governo Federal. Os critérios de escolha se baseiam principalmente na necessidade das comunidades e na viabilidade das obras. As comunidades que ainda não foram contempladas pelo PAC, poderão receber os investimentos do PAC 2.
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Como ficam os Bailes Funk e a diversão nas comunidades com UPP?
*Thiago Firmino*, DJ e Agente Cultural do Santa Marta
Dilma: DJ Thiago, acredito que as Unidades de Polícia Pacificadora estão desempenhando um papel importantíssimo de retomar os territórios que antes eram dominados pelo crime. Aliado a isso, são reforçados os investimentos em habitação, saneamento, esporte, lazer, saúde. Você que mora no Santa Marta deve saber o quanto esse modelo beneficia a comunidade e seus moradores. Acredito que segurança, lazer e cultura devem se complementar. Nas comunidades em que são instaladas as UPPs, o processo inicial de pacificação deve ser sucedido da retomada gradual das atividades costumeiras de diversão, como já vem acontecendo em comunidades cariocas que já passaram por esse processo.
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O que pode ser feito para trazer para a legalidade os comerciantes de regiões carentes, que muitas vezes tem um estabelecimento comercial dentro da favela e, por não ter CEP ou não pagar IPTU, por exemplo, é obrigado a atuar na clandestinidade.
*Júlio Anderson*, comerciante e morador de Vila Triagem.
Dilma: Caro Júlio, o Governo Lula, do qual tive orgulho de fazer parte, empreendeu grandes esforços para ampliar a formalidade do mercado de trabalho. Criamos mais de 14,7 milhões de vagas de trabalho e, pela primeira vez na história, o número de empregos formais superou o número de informais. Para os Micro Empreendedores Individuais, como estes comerciantes a que você se refere, incentivamos a formalização. Nossa meta é chegar a pelo menos um milhão de autônomos formalizados até o fim do ano. Também criamos o Simples Nacional, para simplificar a arrecadação de tributos para micro e pequenas empresas. Para os comerciantes que estabelecem seu pequeno negócio em favelas, outra medida necessária que o PAC prevê é a regularização fundiária. Assim, cada comerciante poderá formalizar seu negócio, com endereço fixo e legalizado.
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Como será a relação do seu governo com as mídias alternativas?
*André Fernandes*, fundador da ANF
Dilma: Caro André, acredito que a comunicação é um direito de todos e todas e as mídias alternativas são um meio de expressão que deve ser valorizado. Caso eu seja eleita, pretendo incentivar as rádios e televisões comunitárias, implementar políticas de regionalização da comunicação e ampliar a infraestrutura, em especial, de salas de cinema, cineclubes e da rede de banda larga e concessão de rádios comunitárias.
Pretendo também criar e regulamentar uma rede interligada de Telecentros, fomentar a expansão de Pontos de Mídia Livre e articular as políticas de acesso à Internet com as políticas de educação. Dessa forma, acredito que conseguiremos ampliar o acesso dos brasileiros e brasileiras às condições de produção e veiculação de conteúdos, fortalecendo seu direito à comunicação.