O governo do Distrito Federal resolveu que a diplomação dos eleitos para a Câmara Distrital, a Câmara dos Deputados, o Executivo local e o Senado não será no Setor Militar Urbano, como previsto, mas sim no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. A decisão foi baseada em solicitação do Tribunal Regional Eleitoral, temeroso do que poderia ocorrer no possível encontro de políticos eleitos e correligionários com manifestantes pró-Bolsonaro acampados em frente ao Quartel General do Exército desde o início do mês passado.
Antes que alguém pergunte se não existe autoridade em Brasília, vou dizer o que acho que aconteceu: o TRE consultou o Comando Militar do Planalto sobre a conveniência de manter o Setor Militar Urbano como local da cerimônia e diante do receio do tribunal e da própria leniência com os baderneiros, os militares concordaram e o tribunal recorreu ao Executivo local para resolver a parada. É mais barato e fácil encontrar outro espaço do que fazer valer a autoridade sob a alegação de que o SMU fora escolhido exatamente por oferecer condições de segurança aos participantes da diplomação.
É preciso entender o contexto onde se inserem eventos como esse para ter a visão total da questão. No Rio de Janeiro, até anos atrás, a apuração da escola de samba campeã no desfile oficial do carnaval acontecia dentro do quartel do Regimento Caetano de Farias, da Polícia Militar, no centro carioca. Era a maneira mais segura de chegar ao nome da vencedora sem brigas, facadas e tiros eventuais de inconformados. “Eleições” assim sempre deixam um nó na garganta dos perdedores, como vemos agora.
A partir de 1984, com a construção do Sambódromo carioca pelo governador Leonel Brizola e seu vice Darcy Ribeiro, as apurações dos desfiles de carnaval foram transferidas para a Praça da Apoteose e o contingente policial foi reforçado, de acordo com o princípio lógico de que polícia não está aí para abrigar eventos deste tipo e que pedidos neste sentido pelas autoridades civis são o reconhecimento da incompetência para realizar seus certames – seja a Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, seja o Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal.
Neste ano, na noite da próxima segunda-feira serão entregues diplomas ao governador e à vice, à senadora, ao suplente, aos deputados federais e deputados distritais vencedores das eleições de outubro. A versão oficial da mudança de local é simples: o evento tradicionalmente acontece no Auditório Pedro Calmon do Quartel General do Exército. Neste ano, como há manifestações no local que colocam em risco a integridade dos políticos e representantes da Justiça Eleitoral, o TRE-DF mudou para o Centro de Convenções, com policiamento reforçado.
Além de atender aos anseios do TRE-DF e dos militares, a mudança é uma amostra da força do movimento bolsonarista acampado no QG do Exército e ressalta a passividade dos militares ante a ocupação por mais de um mês de parte da sua área por um grupo que se fosse integrado por pobres, negros, indígenas, mulheres, deficientes não seria tolerado, mas sim enxotado da área militar de “segurança máxima”. Bem, pelo menos serve para mostrar de que lado estão os militares, quando se trata de Bolsonaro e seu sonho golpista.