Na próxima semana, entre 21 e 26 de agosto, acontece a nona edição do Festival de Teatro Lusófono (Festluso), na cidade de Teresina (PI). Com realização anual desde 2008, não seria exagero dizer que este encontro é um dos principais espaços de intercâmbio entre a cena teatral dos países de língua portuguesa em todo o mundo. É significativo que aconteça no Brasil, especialmente no Piauí, um dos estados mais pobres da federação, mas que, no entanto, possui uma cena cultural forte e intensa, muito além do eixo Baixo Gávea – Vila Madalena.
Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Macau, Timor Leste, Portugal e mesmo a Galícia, região da Espanha cujo idioma se parece com o português, já passaram pelo Festluso. O foco do festival é o teatro dos países africanos de língua portuguesa. Em geral, os intercâmbios gerados a partir da vinda dos espetáculos de desdobram em outras iniciativas, como co-produções, circulação de artistas e trocas de experiências, além do fortalecimento de uma rede em torno da cena teatral lusófona.
Vale lembrar que ainda não tivemos a edição 2017 do Festlip – Festival de Teatro da Língua Portuguesa, tradicional evento do Rio de Janeiro que ainda precisa captar apoios e patrocínios necessários para a sua realização. O contexto é desfavorável para investimentos no setor cultural e, para complicar ainda mais este cenário, a cada ano aumentam as dificuldades para a entrada no Brasil de artistas oriundos de países africanos devido a inúmeras restrições por parte das embaixadas e do Itamaraty na concessão de vistos de viagem. Apesar dos protocolos internacionais sobre a circulação de bens culturais e dos acordos de cooperação no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o governo brasileiro tem criado mais dificuldades do que facilidades para o ingresso destes artistas em nosso país. Reflexos do golpe?
Na semana passada, apresentamos no Teatro Popular Oscar Niemeyer duas sessões gratuitas e lotadas do espetáculo Nos Tempos de Gungunhana, com o ator moçambicano Klement Tsamba. O espetáculo é baseado na obra de Ungulani Ba Ka Khosa, um dos mais célebres escritores de Moçambique. Seguindo a tradição oral dos griôs, os contadores de história africanos, Tsamba narra em cena diversos episódios em torno da vida e do mito do imperador africano Gungunhana. Na ocasião, realizamos também debate sobre a cena teatral nos países de língua portuguesa, com a participação do diretor e curador do Fetluso, Francisco Pellé. Para 2018, a expectativa é ampliarmos a ponte Niterói – Teresina, fazendo com que mais espetáculos que venham ao festival se apresentem por aqui.
A realização do Festluso só é possível graças ao empenho e ativa militância cultural do Grupo Harém de Teatro, que há 33 anos existe e resiste em Teresina como um dos mais importantes e longevos grupos de teatro do nordeste e do Brasil. Iniciativas como esta nos inspiram e animam a seguir adiante, apostando na Cultura Viva do povo brasileiro. Vida longa ao Festluso!