‘Pedi a Deus para não tirar a minha vida’, disse doméstica atingida por bala
Mãe protege criança de três anos e acaba baleada na Vila da Penha. Disparo partiu de policial civil, relatam testemunhas
POR PAULA SARAPU
Rio – Uma perseguição de policiais civis a um motociclista suspeito deixou uma mulher ferida, ontem de manhã, na Vila da Penha. A doméstica Aleandra Rodrigues Moreira da Silva, 35 anos, passava pelo Largo do Bicão, com o filho de três anos no colo, quando foi atingida por um tiro de raspão no ombro, que também acertou o queixo dela. O caso ocorreu 19 dias após o juiz trabalhista Marcelo Alexandrino da Costa Santos, seu filho e sua enteada terem sido baleados durante blitz da Polícia Civil na Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá.
Aleandra passava por dentro do posto, levando o menino Reuel à escola. Dois frentistas viram a ação e contaram que o carro da Polinter perseguia uma moto vermelha. “Foram dois tiros. O cara da moto estava sozinho e sem capacete. Ele não atirou, só o policial. A moça caiu com o filho no colo e um cliente socorreu”, contou um atendente. O circuito de câmeras do posto flagrou a ação e as imagens foram enviadas à perícia.
Um morador da região que estava num ponto de ônibus na Avenida Meriti relatou a O DIA o que viu. “Um policial saltou do banco do carona da Blazer e efetuou dois disparos. Um atingiu a moça. Em momento algum houve troca de tiros. E eles (policiais) saíram sem prestar socorro. Uma vergonha”, desabafou E.
A doméstica foi atendida no Hospital Getúlio Vargas, na Penha. Depois de receber os curativos, ela deixou a unidade trêmula e ainda suja de sangue, com pressa para reencontrar o filho.
Delegado e tenente-coronel contam versões diferentes
O delegado Túlio Pelosi, da Polinter, afirmou que a equipe levava a viatura a uma oficina, quando se deparou com troca de tiros entre bandidos e PMs. Ele ouviu o depoimento de quatro agentes e abriu sindicância. O comandante do 41º BPM (Irajá), tenente-coronel Alexandre Fontenelle, que enviou um oficial ao posto para ver as filmagens, foi categórico.
“Não houve confronto com a PM. Não havia viatura da PM no local, nem caracterizada, nem descaracterizada. Chegamos para registrar a ocorrência e ouvimos as testemunhas, que afirmam que a viatura da Polinter estava em perseguição e que um policial civil fez dois disparos. Imagens mostram o que aconteceu”.
O delegado da 27ª DP (Vicente de Carvalho), João Dias, disse que vai analisar as imagens e ouvir mais testemunhas. “Se houver indícios de que os policiais estão envolvidos, o caso deve ir para a Corregedoria”.
Aleandra contou que estava de costas ao ser atingida e tentou proteger a cabeça do filho, apoiando-a em seu peito. “Não estou aqui para julgar ninguém, mas será que não teria outra forma de atuar? Não sei se estão preparados e até tenho medo de falar isso, mas eles dão tiros em qualquer lugar”, disse.
“Só senti um tiro, um soco, uma dor muito grande. Pedi a Deus para não tirar minha vida, para eu poder cuidar do meu filho. Estava com ele no colo. Abracei ele bem forte e comecei a gritar que tinha sido baleada. Estava sangrando muito e uma frentista pegou meu filho. Jesus livrou meu filho porque a cabecinha dele estava encostada no ombro que foi atingido”, disse Aleandra.