Que me perdoem os eternos admiradores do Bonde do Tigrão, porque eu mesma já dancei muito com essa faixa do meu ipod. Mas é que um dia desses recebi uma mensagem inbox, no Facebook, que dizia: “Minha namorada me bateu e eu não sei o que fazer”.
Do outro lado, uma menina linda, super empoderada e que tinha apanhado da namorada. Naquela semana, não era a primeira mulher que tinha feito relato parecido. Seja por agressão física ou psicológica, ainda é um dos maiores pedidos de diálogo que recebo por inbox na página do Autoestima Diva.
Outro dia, duas amigas terminaram o relacionamento, porque não souberam lidar com as questões dos seus relacionamentos héteros passados, que ainda refletiam no cenário atual de suas vidas. Elas não conseguiam lidar com os reflexos.
Uma outra conhecida não consegue alcançar determinado lugar na empresa pois, enquanto se esmera de estudar e trabalhar , o pai do filho dela está dividindo o tempo entre viagens pela Europa e acredita que a ajuda financeira é o suficiente. Só que nunca vai passar, ao menos, as férias com o filho. Um menino que já cresce na margem do ódio e rancor pela ausência das preocupações do pai.
Já sabemos que nós mulheres carregamos uma série de questões sociais que vão além do que o Disque 180 pode nos socorrer e que se tornam pessoais e particulares. Porém, são tão plurais que me questiono onde esse ciclo vicioso vai parar.
Olhe para o lado. Empoderamento de cá e acolá, mas ainda estamos tão perdidas, que já saímos de cara fechada na rua, em plena luz do dia, logo quando acordamos. Uns menos esclarecidos confundem com TPM. Outros brincam com a sorte e nos dizem que é coisa de feminista sair com a cara amarrada.
Até quando vão nos matar com doses emocionais, fracionadas em desgaste físico e psíquico? Precisamos ter poder, ser empoderadas, nos preocupar com a roupa que vamos usar, estar equipadas de argumentos, mesmo em um tempo em que é “politicamente correto” soltar “fogo pelas narinas”. Queremos isso quando nos der na telha e não mais como imposição para sobreviver.
A conta não bate, não fecha mesmo e não importa se estamos falando de você, da sua mãe, da Oprah, da Djamila, da professora da rede pública ou da minha vizinha.
Quantas mulheres mais vamos ter que perder? Principalmente porque nossos danos, na maior parte do tempo, são causados por algum vínculo masculino. A cada passo que damos colocando as nossas questões e marcas de lado, perdemos partes significativas de nós mesmas. É como se nossos projetos e metas fossem ficando aos pedaços em cada lugar que transitamos. Ciclos interrompidos.
Enquanto nos protegemos, nos transformando em ostras e colocamos nossa liberdade de ser feliz em risco, a maioria dos meus amigos seguem sem compromisso com a vida das mulheres com quem se envolvem. Longe de mim generalizar o grupo masculino, mas a verdade é que em um mundo extremamente machista e feito para o conforto deles, é preciso muito mais que apoiar mulheres. É preciso se autoavaliar nas mínimas atitudes e puxar para si a responsabilidade de toda essa crueldade chamada privilégio de gênero.
Não basta, querido amigo, acreditar que aceitar o não de uma mulher na balada ou ficar com o filho no final de semana ou até mesmo pagar a pensão do menor, te faz um homão da porra. Isso te faz apenas um ser normal, ciente do que te compete.
Seria maravilhoso que não existisse peso para nenhuma das partes, mas o que a gente quer de verdade é que o peso existente seja igualitário e não mais nossa bagagem diária.