Vivemos dias difíceis no Morro da Providência, a primeira favela do Brasil. Assim como ocorrido no Complexo do Alemão, moradores da Providência e trabalhadores que utilizavam o Teleférico para atravessar o Túnel João Ricardo sofrem com mais uma interrupção no serviço do meio de transporte.
O morro da Providência, localizado no Centro do Rio, começou a sofrer as mudanças na gestão de Eduardo Paes ainda em 2013. A área do Porto do Rio passou a ganhar uma atenção especial da Prefeitura e dos empresários, principalmente do ramo imobiliário. Assim, ainda naquele ano, escutávamos os rumores das modificações e obras que seriam feitas na favela. Várias casas foram marcadas para serem removidas (!) em nome de um pretenso plano inclinado – que acabou engavetado – numa das partes mais tradicionais do morro: a escadaria da Praça Américo Brum. A própria praça, tida como o coração do morro, sofreu a maior modificação em nome do Teleférico, que viria com a promessa de ajudar na mobilidade dos moradores, muito embora não contemplasse a todos. Mesmo sob vários protestos, nenhuma modificação feita no local teve diálogo com aqueles que seriam os mais atingidos.
As obras do Teleférico enfim ficaram prontas, mas seu funcionamento começou apenas parcialmente em 2014. Após isso, os moradores que já se habituaram ao transporte vez ou outra saíam prejudicados pela parada abrupta de seu funcionamento. Desde que foi inaugurado com horário estendido em 2015, o Teleférico parou para “manutenção” por, pelo menos, três vezes e por tempo indeterminado. Os moradores ficam sabendo da situação pelo boca a boca na favela, já que não há nenhuma informação oficial, nem mesmo sobre seu retorno aos trabalhos.
Desde a primeira semana de dezembro de 2016, o Teleférico da Providência parou mais uma vez. Tal qual o caso do Alemão, a justificativa é a mesma: manutenção. O velho prazo também retornou: nenhum. Ou seja, os moradores agora se deparam com as portas fechadas e voltam a encarar os altos custos dos transportes alternativos ou as ladeiras íngremes para subir e descer de suas casas.
A obra do Teleférico da Providência custou aproximadamente R$ 75 milhões – isto é, dinheiro público. O resultado real é o descaso com o que logo acabou se tornando um elefante branco. Tanto dinheiro gasto, o soterramento de uma memória local, os desgastes com os moradores… Tudo isso foi em vão?
Já podemos afirmar quem são os maiores prejudicados nisso tudo: os próprios moradores do Morro da Providência. O silêncio do poder público permanece. Da grande mídia também. Ninguém sabe, ninguém viu, ninguém dá alguma resposta ao tanto de gente que passou a conta com esse transporte. Estamos em 2017, período em que o morro completa 120 anos. Até quando os moradores das favelas terão que conviver com o descaso do poder público?