Um fenômeno politico se repete em nossa história. Trata-se do levante cristão na política brasileira. Assim é desde que os positivistas, ao lado dos liberais, deram um golpe de Estado no Império de D. Pedro II e na Igreja Católica. Ao assumirem, colocaram seu plano de poder em prática.
O Estado brasileiro teve parte de sua história oficial escrita dentro da Igreja da Humanidade, onde se cultuava a ciência como base do pensamento filosófico. Este mesmo Estado se deu o trabalho de criar novos mitos para a nossa cultura – implementaram em nossa história o culto a heróis. Numa tentativa de substituição do imaginário popular, utilizaram em representações artísticas características que remetem ao Cristo Messias, símbolo máximo da Igreja Católica que, junto com o Governo Imperial, dominavam toda a sociedade, inclusive suas mentes e costumes.
Vale sempre lembrar que o Catolicismo era escravista e principal ferramenta de colonização portuguesa. Ajudou a escravizar e assassinar milhares de índios nesses últimos 500 anos de invasão. Mas os positivistas queriam acabar com o Império e a Igreja dentro do subconsciente das pessoas. Criaram, entre outras, a figura messiânica de Tiradentes. Criaram o Hino Nacional Brasileiro, a Bandeira da República Federativa do Brasil e outros símbolos que são base de nossa civilização e nos criam o sentimento de nação e brasilidade: tudo pesado racionalmente para desenhar uma nova sociedade segundo suas interpretações.
Os colonizadores portugueses usaram a religião como ferramenta de dominação. Os positivistas criaram a Primeira Igreja da Humanidade do Mundo e lá desenvolviam suas teses. Imagine o poder de um grupo que viria a dominar a televisão, internet, rádio, setores industriais e de entretenimento, além dos apoteóticos templos milionários: a influencia de um tipo de ideologia hegêmonica, com maioria ou força suficiente para manipular um Congresso Nacional inteiro, como foi o caso do impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Neste processo de votação, os deputados da dita Bancada Evangélica usaram motivos religiosos, baseados em suas interpretações sobre a Bíblia Sagrada para votarem a favor do impeachment. Não foram levados em consideração a questão de crime ou imperícia no cargo máximo da nação. Tratou-se apenas de um voto fechado de uma potência religiosa que, mais uma vez, almeja implementar seu plano de poder e que surge principalmente nos lugares mais carentes como a única salvação de suas vidas e almas.
O que deseja a Bancada Evangélica?
No Rio de Janeiro, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho manifesta seu apoio ao candidato Marcelo Crivella, que arrasta uma massa radicalizada, disposta a dar sua vida pela Causa Santa. Assim como o grupo radical Estado Islâmico, também é monoteísta, odeia os infiéis e tem plano de poder teocrático.
A maior propaganda neopentencostal é o fim da “macumba”, retirar o jovem do tráfico e, principalmente, a ascensão social baseada no trabalho e submissão. Não se pode esquecer da pregação de discriminação a todo tipo de diversidade, cultural, religiosa ou sexual. São ações diretas nas comunidades carentes. Desta forma, eles conseguem acesso a lugares abandonados pelo Estado.
É sabido que o Cristianismo Evangélico no Brasil prega a intolerância a outras religiões, principalmente as de matriz africana. São inúmeros os casos de agressões a religiosos de umbanda e candomblé. A grande imprensa já noticiou diversos casos de pastores que pedem para o “Dono da Boca” acabar com terreiros em favelas da nossa cidade.
Edir Macedo, liderança máxima do pensamento filosófico evangélico no Brasil, já lançou diversos livros relacionando os Orixás a demônios, criando um constrangimento ao afrodescendentes e adeptos da religião. Como pode o Candomblé, que é de matriz africana, ser motivo de tantos ataques de outra religião com base no Oriente Médio? Cada religião deve ser seu próprio mocinho e bandido. E fazer-se valer por si só.
A disseminação do ódio religioso é transversal a questão etnorracial, onde jovens e adultos negam suas origens culturais em prol de uma religião branqueadora, com princípios capitalistas, intolerantes e discriminatórios.
Aonde foram parar a Mula-Sem-Cabeça, o Saci Pererê e o Curupira?
Na Rede Municipal de Ensino Infantil do Rio de Janeiro, há um número expressivo de professores evangélicos que se negam a aplicar a Lei 10639, que trata do ensino da cultura africana, além de deixarem de lado figuras do folclore brasileiro. Muitos deles ainda decoram a sala de aula e colocam nas provas e diários dos alunos provérbios e mensagens como: “Você é uma ovelha de Jesus”!
Aonde foram parar a Mula-Sem-Cabeça, o Saci Pererê e o Curupira? Nossa história será moldada por uma nova ideologia radical, que mais uma vez tem uma Igreja como base e princípio.