Há uns dias, circulou pela rede o vídeo de uma esquete da nova temporada do programa de Marcelo Adnet, “Tá no Ar” (TV Globo). O vídeo trazia uma crítica bem humorada e inteligente ao racismo no país, mostrando como é ser branco (e, automaticamente, privilegiado) aqui no Brasil.
O racismo é algo estrutural por essas terras. Não se define somente por práticas, mas, sim, por um projeto político de dominação, que faz com que seja natural que vejamos a imagem do branco como “bom e belo” e do preto como “mau e feio”. Chamar de preto é até ofensivo pra muita gente, só pra se perceber como o racismo é eficaz.
Na própria questão da esquete do “Tá No Ar”, podemos trazer outro olhar: fica mais bonito, mais convincente para sociedade, uma galera branca de evidência falar que existe racismo do que os próprios pretos que sofrem com isso.
A mana Tainá Almeida, integrante do coletivo Meninas Black Power, lembrou muito bem disso em um post no seu perfil do Facebook, dando como exemplo o trabalho do canal do Youtube “Tá Bom pra você?”. No canal, atores negros, que já circulam por grandes emissoras e produções audiovisuais de renome, usam o humor para fazer críticas e debater o racismo na comunicação e no entretenimento.
Uma pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) coordenada pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) mostra que as mulheres pretas não figuraram nos filmes nacionais de maior bilheteria, mesmo sendo a maior parte da população feminina do país (51,7%). A proporção é de dois a cada dez longas entre 2002 e 2012.
No ano passado, o IBGE anunciou que o rendimento dos trabalhadores de cor preta ou parda cresceu 52,6% entre 2003 e 2015. Entre os trabalhadores de cor branca, o crescimento foi de 25%. Contudo, é nítido que o jogo ainda é desigual. O mercado publicitário é um grande exemplo: quantas pretas e pretos são destaques? Quantos têm cargos como head, lideranças de núcleos importantes?
Para esse ano que chega ao seu vigésimo dia, espero que possamos superar mais barreiras. Temos todo o mundo esclarecido contra nós, diariamente. O lugar onde esse mundo quer ver o corpo preto é sempre abaixo de tudo. Para o azar deles, seguimos avançando. Nosso lugar é onde a gente quiser.