É só mais um dia de violência no Rio

Ônibus sequestrado com 37 passageiros na ponte Rio-Niterói. Créditos - Reprodução

 Rio de Janeiro, 20 de Agosto de 2019Ponte Rio-Niterói, 5h e 26 da manhã, mais um dia comum, com pessoas indo para o Rio trabalhar, estudar, indo a consultas médicas, etc, quando um homem armado com um revólver, uma faca, coquetel molotov, uma arma de choque elétrico e gasolina anuncia o sequestro do ônibus da viação Galo Branco, com 37 passageiros a bordo. O mesmo, obriga o motorista a parar o veículo atravessado na via, e por volta das 6h, a pista em sentido ao Rio é fechada é às 7h20, o outro sentido da Ponte também é fechado.

Quais os motivos que levaram o sequestrador, que foi identificado como Willian Augusto da Silva, de 20 anos, a cometer esse ato criminoso ninguém sabe e talvez, nunca saiba. Mas, o que todos sabem, é que ele foi “mais um” a cometer um crime que paralisou a rotina das cidades do Rio e de Niterói. Sabem que foi “mais um” a deixar passageiros em pânico e aterrorizados dentro de um coletivo, sem saber se vão sair feridos fisicamente, ou vivos do transporte. Sabem que foi “mais um” a mobilizar um enorme aparato policial para a Ponte Rio-Niterói e em consequência, mobilizar toda a imprensa, que a cada minuto, renova as informações, ou acaba dando as mesmas. E o que sabem também, é que Willian Augusto, foi “mais um” a deixar familiares de reféns apreensivos e com muito medo de um desfecho trágico para eles.

Triste manhã no Estado do Rio de Janeiro que teve um “mais um” dia de rotina interrompida pela violência. Mas, mais triste ainda, é ter que repetir a expressão “mais um”, porque infelizmente a violência no Rio de tornou algo “rotineiro e banal”. É lamentável, mas as pessoas não se escandalizam mais com cenas de violência, não se surpreendem, o que parece, é que tudo é possível acontecer porque faz parte da rotina de uma grande metrópole.

E o triste acontecimento de hoje foi “mais um” dia em que um ato violento foi banalizado por algumas pessoas que ficaram engarrafados na Ponte Rio-Niterói nos dois sentidos da via. A calma e a serenidade eram percebidas nas expressões de alguns entrevistados pelas emissoras de TV. E é claro, a preocupação com seus horários de trabalho, escola e outros compromissos eram nítidos também. Pois, justo naquele horário, o cara resolveu sequestrar um ônibus cheio de passageiros, atrapalhando o trânsito, fazendo o trânsito dar um nó nas duas cidades. E o que iriam explicar para seus patrões? E seus afazeres, que teriam que dar conta, independente da hora que chegassem. Mas não tem jeito, a única solução seria esperar aquela confusão toda acabar para saírem dali e darem seguimento em suas rotinas. Sim, infelizmente, uma verdadeira banalização da violência.

Então, o que fazer para matar o tempo? Comer, pois muitos levantaram cedo demais e já estavam com fome a medida que as horas avançavam. Eis que surge alguém vendendo lanches no carro, e aí, abre o porta malas, anuncia seus produtos e logo se forma uma fila. O guarda-corpo da ponte vira uma mesa improvisada para colocar as guloseimas. Famintos, pois já eram horas de espera pelo fim do sequestro e a liberação do trânsito, e todos se aglomeram em volta dos alimentos para se servirem e saciarem a fome.

E depois de comer, o que mais fazer enquanto nada se resolve? “Jogar bola”  bom para dar aquela aliviada na tensão da espera, ou até mesmo “soltar uma pipa”, nada mal, pois não se sabia a que horas sairiam de lá. Ficar parado o tempo passar não estava nos planos das pessoas, a “criatividade” tinha que ser posta em prática até tudo acabar. E de que forma iria acabar, a isso não importava nem um pouco, o que todos queriam mesmo era sair daquele caos e continuarem com suas rotinas.

Mas, e o sequestrador, e os reféns? Pois, às 9h04, Willian Augusto da Silva, ao descer do ônibus e jogar um casaco para os policiais, foi alvejado por um atirador de elite que estava camuflado em cima do carro do Corpo de Bombeiros. E ao confirmar que o homem tinha sido baleado e morto, o atirador e todos os presentes no local, comentaram felizes o fim de “mais um” sequestro de ônibus na Ponte Rio-Niterói, e sendo assim, poderiam continuar seus trajetos sem mais problemas, pois o que os atrapalhavam já tinha sido retirado de circulação. E como foi dito pelo porta-voz da Polícia Militar, por alguns âncoras de telejornais e repórteres, “tudo acabou bem”.

Mas acabou bem para quem? Para o sequestrador, que foi morto? Para os reféns, que não esquecerão jamais os momentos de pânico e terror que viveram? Para a mãe de Willian Augusto, que perdeu um filho? Para o atirador de elite, que teve que tomar a dura decisão de ceifar uma vida para salvar outras 31? Para quem acabou bem? Para o Governador Wilson Witzel, que chegou de helicóptero, após o fato ocorrido para comemorar o sucesso da operação? Para a população, que inundou as redes sociais com comentários cheios de ódio, com memes debochados, áudios com piadas sobre o assunto? Acabou bem para a grande mídia, que alterou sua programação para ficar horas narrando o triste episódio e ao fim, noticiar a morte de mais um?

Triste dia esse 20 de agosto de 2019, em que a “sociedade do espetáculo” do século XXI, mostrou mais uma vez que a violência faz parte da rotina e por isso deve ser tratada como algo natural. Foi só mais um sequestro de ônibus na Ponte Rio-Niterói, então, se estressar e se espantar com o que? Daqui a pouco, outro ato de violência acontece para parar a cidade, para as emissoras de TV modificarem suas grades de programação e depois virar meme e piada na internet. É vida que segue.

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Carla Regina
Sou estudante do último período da faculdade de Jornalismo, gosto muito de ler e de escrever. Me acho simpática, pelo menos é o que me dizem as pessoas quando me conhecem, mas creio que eu seja sim, pois adoro fazer novas amizades e conservar as antigas. Comunicativa, dinâmica e muito observadora, um tanto polêmica. Gosto muito de trabalhar em equipe, mas, dependendo da situação, a minha companhia para trabalhar também é ótima. Pois, na minha opinião, a solidão aguça a criatividade, fazendo com que a mente e os pensamentos fluam um pouco melhor. Comecei a trabalhar muito nova, ainda quando criança e já fiz muita coisa na vida, mas meu sonho sempre foi ser Jornalista e Historiadora, cheguei a ter muitas dúvidas de qual faculdade cursar primeiro, já que para mim as duas carreiras são maravilhosas. Então, resolvi entrar primeiro para o Jornalismo e no decorrer do curso percebi que cursar a faculdade de História não era só uma paixão, mas também uma necessidade para linha de jornalismo que que pretendo seguir. Como sou muito observadora e curiosa, as duas profissões têm muito a ver com minha pessoa. Amo escrever e de saber como tudo no mundo começou, até porque. tudo e todos tem um passado, tem uma história para ser contada.