“É som de preto, de favelado”

Baile Funk at Boqueirão club, Rio de Janeiro. Soundsystem Furacão Gigante, 2008. Créditos - Vicent Rosenblatt

Funk: ritmo dançante, alegre, divertido, sensual, sexy, quente, polêmico e também, muito discriminado!

“É som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado!Tá ligado?!”

Esse trecho da letra de funk dos MCs Amilcka e Chocolate explica bem o que é esse ritmo que é tão discriminado, mas quando começa a tocar em uma festa, seja na favela ou no asfalto, todos vão para o meio do salão ou da pista para dançar do seu jeito. No Rio de Janeiro, estado em que o movimento é bem forte, de norte a sul, de leste a oeste é possível ouvir inúmeros aparelhos de som ligados tocando músicas do gênero. Do carioca mais novinho ao mais velho, nem que seja por alguns instantes, acaba se rendendo ao pancadão, como o ritmo também é chamado, e há décadas faz parte da cultura dos habitantes do estado.

Agora vamos saber um pouco de como esse ritmo que não deixa ninguém ficar parado, começou e onde, e como chegou ao Rio de Janeiro, conquistando a maioria dos cariocas, dominando e se fixando nas favelas e periferias de todo o estado.

Apesar de quase sempre se utilizar as batidas do miamibass, com o aumento de raps/melôs gravadas em português, o funk carioca começou na década de 1990 criando a sua identidade própria. As suas letras refletem o dia a dia das favelas ou fazem exaltações a elas, (muitos desses raps surgiram de concursos de rap promovidos dentro das favelas). Em consequência, o ritmo ficou cada vez mais popular e os bailes se multiplicaram. O funk começou a ser alvo de ataques e preconceito da sociedade, ao mesmo tempo. Não só por ter se popularizado entre as camadas mais pobres da sociedade, mas também porque, em vários destes bailes, ocorriam os chamados “corredores”, quando dois grupos rivais, chamados de “lado A e lado B”, se encontravam, às vezes, resultando em mortes.

Com isso, passou haver uma constante ameaça de proibição dos bailes. Logo, aparecem canções de funk que pediam paz entre os grupos rivais, como a música Som de preto. Surge então uma nova vertente, em meio a isso, que foi o funk melody, com músicas mais melódicas e temas mais românticos, seguindo mais fielmente a linha musical do freestyle norte-americano, alcançando o sucesso nacional. Nesta primeira fase, destacaram-se Latino, Copacabana Beat, MC Marcinho, entre outros.

Hoje, os mesmos que repreendem os bailes funks nas favelas, com a velha desculpa de combate ao tráfico de drogas, são os que curtem em suas mansões dentro de condomínios de luxos nas áreas nobres do estado e do país. São os mesmos que contratam os MCs e DJs famosos para cantarem e tocarem funk em suas festas em boates caras e luxuosas, fazendo questão de chamar de “o verdadeiro baile de favela”, mas é claro, sem a presença dos favelados. O preconceito não é com o gênero, mas sim, com os negros, com os moradores de favelas. Com o funk ser favelado virou moda, mas desde que não viva é nem passe por tudo que passa um favelado, desde que não misturem os favelados no núcleo deles. O preconceito com moradores de favela e no racismo institucional que há em todo país, em especial no Rio de Janeiro.

Matéria da edição do jornal A Voz da Favela de maio de 2019.

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Carla Regina
Sou estudante do último período da faculdade de Jornalismo, gosto muito de ler e de escrever. Me acho simpática, pelo menos é o que me dizem as pessoas quando me conhecem, mas creio que eu seja sim, pois adoro fazer novas amizades e conservar as antigas. Comunicativa, dinâmica e muito observadora, um tanto polêmica. Gosto muito de trabalhar em equipe, mas, dependendo da situação, a minha companhia para trabalhar também é ótima. Pois, na minha opinião, a solidão aguça a criatividade, fazendo com que a mente e os pensamentos fluam um pouco melhor. Comecei a trabalhar muito nova, ainda quando criança e já fiz muita coisa na vida, mas meu sonho sempre foi ser Jornalista e Historiadora, cheguei a ter muitas dúvidas de qual faculdade cursar primeiro, já que para mim as duas carreiras são maravilhosas. Então, resolvi entrar primeiro para o Jornalismo e no decorrer do curso percebi que cursar a faculdade de História não era só uma paixão, mas também uma necessidade para linha de jornalismo que que pretendo seguir. Como sou muito observadora e curiosa, as duas profissões têm muito a ver com minha pessoa. Amo escrever e de saber como tudo no mundo começou, até porque. tudo e todos tem um passado, tem uma história para ser contada.