As urnas gritaram a guinada à direita no Brasil. Quem espera uma virada com Haddad no segundo turno pode esperar sentado. Janaína Pascoal teve dois milhões de votos para deputada estadual e Eduardo Bolsonaro 1,6 milhão votos para deputado federal. Os dois são os mais votados na história do país. Kim Kataguiri será deputado federal. Alexandre Frota também. O filho do Ratinho é o novo governador do Paraná. Ronaldo Caiado, fundador da União Democrática Ruralista, a UDR de triste lembrança, governará Goiás.
Por aí vai o desastre que comprova a eficiência do esquema que elegeu Donald Trump nos Estados Unidos, com a Cambridge Analytica. Bolsonaro, por si, não sustenta a onda da nova direita brasileira no nível em que se desenrola, não tem consistência, é um deputado de seis mandatos e nenhuma expressão legislativa. Foi fabricado e está sendo usado no contexto do radicalismo global de rendição ao capital internacional.
O Senado, aliás, teve 85% de renovação nas 54 cadeiras disputadas, ou seja, de cada quatro senadores que tentaram a reeleição, três não conseguiram. Na Câmara calcula-se renovação superior a 50%. Na bancada de oito deputados do Distrito Federal, só Erjka Kokay se reelegeu. Foi um terremoto, um tsunami, uma bomba nuclear. Neste cenário, a direita tradicional também está perplexa, as perdas vão de Edison Lobão a Magno Malta, o que sugere, na minha humilde opinião, que a onda direitista engoliu também os nossos caciques. Tasso Jereissati, a propósito, chegou a ensaiar um “mea culpa” há coisa de um mês renegando o apoio ao golpe que derrubou Dilma. Alguém ainda vai lamentar também a prisão de Lula, porque se concorresse não resistiria ao poder avassalador da máquina.
Bolsonaro ganhou também em muitas embaixadas no exterior – nos Estados Unidos com 90% dos votos. Quando andou por Miami na pré-campanha, perfilou-se diante da bandeira americana e bateu continência, como esperam os brasileiros lá residentes. Estamos, como nunca antes, nas mãos do império de Trump. Confirmada a vitória no segundo turno, no dia 2 de janeiro do ano que vem começa a operação para a invasão militar da Venezuela, com a dupla função de derrubar Maduro e deixar patente ao mundo que o Brasil poderoso e altaneiro está morto e enterrado, no seu lugar ressurge, qual fênix aparvalhado, a enorme república de bananas que “é aquele irmão grande e bobo da família”, como descreveu um político uruguaio à época do impeachment.
O futuro próximo não é promissor, mas um governo comandado por dois militares reacionários e entreguistas será muito pior do que qualquer prognóstico. Os retrocessos que presenciamos até agora são coisa de criança perto do que os responsáveis pelo fenômeno Bolsonaro planejam para o país. Esta é a era das grandes corporações transnacionais, o capital é livre, as pessoas não. A Amazônia, o Aquífero Guarani, as reservas ambientais que se danem, a indústria farmacêutica, a Coca-Cola e a Monsanto precisam explorar o Brasil. A era do antropoceno chegou, o homem submete a natureza e não submete-se a ela. Não pode dar certo…mas isso é assunto pra outro comentário. Por enquanto vamos nos recuperar das urnas de domingo.