Maria Eduarda da Conceição. Eduardo de Jesus. Além dos nomes, ambos têm muitas outras coisas em comum. Viviam suas vidas de criança normalmente. Iam à escola. Brincavam. Eram pobres, mas sonhavam seus sonhos mesmo diante das condições nem sempre favoráveis. Hoje, teriam praticamente a mesma idade. Ambos acabaram assassinados.
A morte, principalmente para quem não acredita em Deus, é inaceitável. Como conceber a interrupção precoce na vida de uma criança? Como é possível tratar estas vidas, especialmente estas, apenas como dados estatísticos? Todo dia, tem sangue favelado no chão. Por que ainda aceitamos isso?
Eduarda e Eduardo estão unidos pela mesma tragédia. Ele brincava no celular na porta de casa, no Alemão, em 2015. Ela jogava basquete numa aula de Educação Física, na Pavuna, há seis dias. Ambos se encontravam nos dois ambientes onde as crianças se sentem mais seguras e acolhidas: o lar e a escola. Ambos terminaram agonizando pelo mesmo dedo que apertou o gatilho. Ambos ainda foram vítimas de campanhas difamatórias, que quiseram justificar o injustificável sob falsas acusações de envolvimento com o mundo do crime. Quis o destino que fosse desta maneira ou que as condições políticas e sociais não apenas desta cidade, mas da nossa sociedade doente assim o permitissem? Fico com a segunda hipótese.
Eduarda e Eduardo foram assassinados apenas por existirem. Mas, ainda que a nossa presença seja incômoda, seguiremos por aqui. Na favela, viver é um ato de resistência.
Julgamento do Caso Sumaré
Aproveito a oportunidade para lembrar, já que toda a grande mídia parece ter esquecido: nesta quinta-feira, 06, acontece o julgamento do que ficou conhecido como o Caso Sumaré, em que dois policiais militares são acusados de interromper também de maneira precoce e injustificada a vida do jovem Matheus, assassinado aos 14 anos. Um ato está programado para as 10h na porta Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Por aqui, estaremos bem atentos para que a justiça seja feita.