Educadores criam grupo para socorrer famílias de alunos em favela de Brasília

Pessoal do grupo de ação do Varjão com parte das cestas - Foto Divulgação

Professores, coordenadores e gestores de uma escola da rede pública que atende à favela do Varjão, vizinha do Lago Norte, em Brasília, criaram o Grupo da Ação Comunitária para socorrer famílias que já estavam sem comida em casa. Na quarta-feira, 8, elas receberam 65 cestas básicas obtidas através de doações em espécie e em alimentos e agora o grupo prepara a segunda ação: a doação de cestas para outras que estarão logo em necessidade.

As ações do grupo vão além da alimentação, incluem material de limpeza e higiene, máscaras para quem ainda tem ocupação na rua e kits feitos com material disponível na escola para as crianças continuarem os estudos durante o isolamento social. As cestas adquiridas com as doações na rede bancária foram montadas com produtos de um mercado local, e junto com cada uma foi distribuído ainda um vale de R$ 20 para compras de frutas e outros perecíveis no Sacolão Bahia, o verdurão local. A entrega foi efetuada em cada endereço, seguindo o isolamento social.

“Dividimos o grupo em três carros, cada carro com uma dupla. A gente ligava para as pessoas confirmando se tinha alguém em casa e entregava a cesta, kit e vale na porta de cada casa. Algumas famílias moram numa invasão atrás de umas chácaras, onde o acesso de carro é praticamente impossível, então entramos com um carrinho de mão pra levar as cestas até a porta delas. Em uma, a mãe não estava, eu tive que deixar dentro da casa, pois a filha que poderia receber tem apenas 10 anos. Quase fui mordida pela cachorra”, lembra uma integrante do grupo, entre assustada e divertida.

No documento de prestação de contas, o grupo explica que a escola atende prioritariamente crianças do Varjão, no nível de Educação Infantil (1º e 2º períodos), com 4 e 5 anos de idade. Estão matriculadas em torno de 350 crianças. “Conhecendo a comunidade do Varjão, sabemos que a maioria dos familiares das crianças atua em trabalhos informais e/ou autônomos e, neste período de isolamento social, foram afastados, demitidos ou impossibilitados de continuar trabalhando, gerando supressão de renda e maior vulnerabilidade social.”

A partir desta constatação, o grupo mapeou a favela, dividindo em duas prioridades, uma urgente e outra em curto prazo. Por telefone, foram recolhidas informações de cada uma e logo traçada a logística de atendimento imediato. A escola foi e ainda é o ponto de doações de alimentos e outros itens, mas o grupo também recolhe em casa com seus carros quando necessário.

O objetivo geral é definido no documento de prestação de contas: “Nossa ação, para além de atender uma necessidade imediata, tem por objetivo a construção de um Conselho Comunitário junto à comunidade do Varjão, para que as/os moradores tenham autonomia de organização das demandas e possibilidades de atuação como coletivo dentro de sua cidade.”