Atitudes violentas muitas vezes manifestam-se camufladas através de gentileza, cuidado, proteção, zelo, ciúme. A violência física manifesta-se através do ato violento intencional, com uso da força física e com o objetivo de ferir, causar dor, machucar, deixando ou não marcas, podendo chegar ao feminicídio, quando a morte de uma mulher se dar pelo único fato de ser mulher.
A violência física é sem dúvida a mais evidente e mais discutida socialmente.
No entanto muitas mulheres têm dificuldades em reconhecer que estão vivendo uma situação de violência, outras não conseguem ao menos identificá-la, tendo em vista que várias violências são naturalizadas em nossa sociedade.
Quantas vezes quando nos queixamos de nossos companheiros ouvimos as afirmações do tipo: “Isso é normal, é coisa de homem. Homem é assim mesmo, ruim com ele pior sem ele. Você tem que ceder, é sua obrigação de mulher, se não ele arruma outra. Ele tava nervoso. Foi por causa da bebida, você também provoca”.
Essas são condutas que naturalizam o comportamento abusivo e violento dos homens e contribuem com que mulheres releve, aceitem e até mesmo se culpem por tal abuso e violência. Para conseguir identificar qualquer tipo de violência e abuso primeiramente temos que conhecê-los, nesse processo informação é essencial.
Dentro de um relacionamento abusivo existem inúmeros tipos e estágios de violências.
A violência psicológica e emocional apontada como a mais comum, ocorre quando se faz uso de pressão psicológica e emocional para fragilizar, oprimir e diminuir a autoestima da mulher, criando uma dependência emocional.
Já a violência financeira e patrimonial além das questões de deterioração de objetos pessoais e do patrimônio familiar, o abusador impossibilita a independência dessa mulher e lhe coloca num contexto de fragilidade emocional e dependência financeira.
A violência moral está ligada à crimes de calúnia, difamação, atitudes com objetivo de manchar a imagem e a honra.
Uma violência comum e vista muitas vezes com naturalidade dentro de relacionamentos afetivos é a violência sexual, dar-se quando o consentimento da mulher não é considerado e lhe é atribuída uma obrigatoriedade em satisfazer os desejos sexuais de seu companheiro. Essa prática é reconhecida judicialmente como estupro marital.
Mulheres que vivenciam uma rotina de violência dentro de relacionamentos afetivos, relatam encontrar dificuldades de sair dessa situação por vários motivos, dentre eles: medo, vergonha, julgamento e retaliação social, dependência emocional e financeira.
Até pouco tempo imperava a “lei do silêncio” a regra era: “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”, hoje o movimento é para a emancipação de mulheres silenciadas. O número 180 é o canal que recebe denúncias de violência contra a mulher e fornece orientações referente a abuso, violência e violação dos direitos das mulheres.
Para além da identificação das violências e possíveis punições, é necessário trazer os homens para o centro dessa questão, com objetivo de reconhecer-se como a gente ativo de uma cultura machista que objetifica e trata mulheres como propriedade.
Ele não te bate, mas sempre crítica seu jeito de vestir, de falar, de comporta-se diante das pessoas. Antes, o que foi motivo para o interesse dele em você, agora é uma espécie de incômodo que deve ser mudado para adequar-se às expectativas e padrões estipulados por ele.
Ele não te bate, mas te afasta da sua família, amigos e hoje seu universo resume-se a ele e as demandas impostas por ele. Ele não te bate, mas te humilha, te diminuí, te atribuí uma incapacidade de ser alguém individual dentro de uma relação.
Ele não te bate, mas destrói seus objetos, num acesso de raiva rasga suas roupas, quebra seu celular, acaba com o patrimônio da família. Ele não te bate, mas usa de pressão psicológica para ter relação sexual mesmo você negando.
Faz chantagem, oprime suas vontades, até você “ceder”, ou não. Ele não te bate, mas te xinga, te humilha, propaga mentiras ao seu respeito, expõe suas intimidades. Ele não te bate. Mas você está vivendo um relacionamento abusivo.