Desde o ano de 1932, quando foi instituído o voto feminino nas eleições brasileiras, até 2020 muitas coisas mudaram. Atualmente mulheres representam mais de 51% do eleitorado no país. Ainda assim, com os avanços da participação feminina nas decisões acerca do futuro de suas cidades, estados e país, mulheres são minoria nos espaços de poder no Brasil.
Em levantamento feito pelo G1, com base nas informações do repositório de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a cada 10 candidaturas para as prefeituras, apenas uma é de mulher. A falta de representatividade feminina no cargo máximo de um município é presenciado, por exemplo, na cidade de Teresópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro, onde nunca teve uma mulher como prefeita.
O primeiro prefeito da cidade serrana foi Benjamin do Monte, em 1913. Mais de 100 anos depois, e com uma lista de 53 prefeitos na história de Teresópolis, o município continua sem uma representante feminina se candidatando ao cargo máximo da cidade. Segundo Felipe Ramos Cabral Sá, 24 anos, estudante de relações internacionais e morador de Teresópolis, as coisas na cidade sempre foram ditas como “dadas” por não haver um espaço para discussão política e debate de ideias. “Fui despertar para diversas questões, inclusive as de gênero, apenas quando comecei a estudar na Uerj”, afirma.
O jovem explica que a falta de politização na cidade e o conservadorismo de ideias sempre existiram, mas foi intensificado em 2011. A cidade sofreu uma tragédia climática e, com isso, recebeu muitos recursos para se revitalizar. Porém, o prefeito da época, que se dizia progressista, roubou parte do dinheiro e fugiu da cidade. “A partir disso a população passou a associar política a algo ruim e a ser evitado”, comenta Felipe.
Júlia Porcino, 23 anos, estudante de odontologia e moradora do bairro de Agriões, em Teresópolis, afirma que muito desse pensamento conservador dos mais velhos, acaba passando para os mais novos. “Quando aparece algum jovem querendo falar, ninguém o escuta, porque as pessoas da cidade não querem dar voz. Há uma dificuldade de se colocar no lugar do outro”, explica.
Acerca da falta de mulheres comandando a prefeitura da cidade, Júlia fala que acha surreal, mas que não se surpreende com esse fato, pois, não há um interesse político na população de mudar. “Aqui é tudo na base do ‘vou votar porque já conheço’ e acredito que isso acaba fazendo com que muitas mulheres não queiram se candidatar”, diz.
A estudante afirma ainda que, caso um dia a cidade tenha uma mulher como prefeita, muitas questões poderiam ser melhor resolvidas. “É preciso se atentar e promover políticas públicas de saúde da mulher sempre, não só no Outubro Rosa. Além de questões como igualdade salarial e de oportunidade de emprego, que nunca são lembradas”, completa.
*Esta matéria faz parte da série Eleição 2020, da Agência de Notícias das Favelas (ANF), e foi escrita por Ludmila Silva, editora regional Sul/ Sudeste da ANF.
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