As eleições municipais de 2020 tiveram um grande número de pré-candidatos LGBTI+ e apoiadores da causa. Em levantamento feito pela Aliança Nacional LGBTI+, foram registradas 569 pré-candidaturas de pessoas LGBTI+ e 63 de pessoas aliadas à causa .
De acordo com o levantamento, no Rio de Janeiro, mais especificamente na Baixada Fluminense, apenas as cidades de São João de Meriti e Duque de Caxias apresentaram pré-candidatos LGBTI+ nas eleições de 2020. Pensando nessa falta de representatividade nos municípios da Baixada, a Agência de Notícias das Favelas (ANF), entrevistou três moradores das cidades de Japeri, Belford Roxo e Magé, que fazem parte da comunidade LGBTI+, para entender como são afetados por essa ausência de representação.
ANF: Como é a questão do preconceito na sua cidade?
Pâmela Xavier, 27 anos – Japeri: Por ser uma cidade de interior e, predominantemente religiosa, as pessoas não costumam lidar muito bem com a questão LGBT. Nunca vi ninguém ser agredido fisicamente ou coisas assim, mas as pessoas costumam “olhar por cima dos ombros”, sempre que vêem casais LGBTs de mãos dadas. Meio que esperam uma certa postura padronizada de nós, o famoso: “namorem, mas não precisa ser em público”. Eu, particularmente, nunca liguei. Demonstro afeto mesmo! Tanto namorando homens, quanto mulheres.
Vitor Maximiniano, 22 anos – Belford Roxo: Acredito que a maior parte do preconceito enraizado pelas pessoas em Belford Roxo é de maioria homens e algumas mulheres que tem uma distorção dos fatos e são, aparentemente, conservadoras.
Maurício Loures, 28 anos – Magé: Tenho uma vida social muito limitada, não saio muito nem tenho muito contato com pessoas sem ser do meu ciclo íntimo. Acredito que, por esse motivo, nunca passei por situações de preconceito aqui em Magé.
ANF: Soube de algum candidato LGBTI+ concorrendo às eleições na sua cidade?
Pâmela: Não conheço nenhum. Se existe, a divulgação não está sendo trabalhada em cima dessa tecla.
Vitor: Até então não soube de nenhum, infelizmente. Isso mostra o quanto esses candidatos estão mais nas capitais e ainda distantes das regiões mais necessitadas do conhecimento sobre quem nós somos.
Maurício: Não vi nenhum candidato. É difícil encontrar algum que represente qualquer tipo de minoria por aqui. Mas por não termos um horário eleitoral na TV, a quantidade de candidatos que a gente conhece acaba se limitando àqueles que sempre vemos pela rua.
ANF: O que mudaria se tivesse candidatos LGBTQI+?
Pâmela: Não sei se a representatividade de um político LGBT traria grandes mudanças para a cidade. Tampouco acho que conseguiria se eleger com esse tipo de pauta.
Vitor: Mudaria, pois haveria mais pessoas assumindo e aceitando ser quem são. Deixando de viver suas vidas através de aplicativos de relacionamento, por ter receio de se assumir publicamente. Esse viés político-cultural e a inserção dessas pessoas são necessários para representarem a voz dos negligenciados num país desigual.
Maurício: Acredito que estaríamos melhores representados na questão de políticas públicas voltadas à comunidade. E aqui podemos falar de saúde, segurança e de combate à homofobia, sobretudo na educação.
ANF: A população da sua cidade está interessada em começar esse diálogo?
Pâmela: Acho que ainda é algo distante. O que percebo é que, cada vez mais, os jovens estão saindo da cidade, seja para trabalhar ou estudar. Isso é ótimo, porque ajuda a mudar a perspectiva, conhecer um pouco mais sobre política, sobre direitos humanos e sobre discriminação. Então, acho que estamos caminhando para isso, mas ainda de uma maneira bem lenta.
Vitor: Interessada eu acredito que não. Acolhedora e menos individualista, provavelmente sim. Para esse diálogo acontecer é preciso continuar quebrando tabus. É preciso dar oportunidade para que a gente comece a ocupar locais onde, ainda, não nos querem. Essa oportunidade tem e deve ser dada através da união de todos os tipos de pessoas, a separação nos dias de hoje só causa mais mortes. Meu povo está cansado de morrer!
Maurício: Não sei, mas acredito que a população precisa ver que aqui existe uma comunidade LGBT, mesmo que ela não esteja organizada. Fora da comunidade, talvez tenham pessoas interessadas em dar apoio a essa pauta.
Serviço:
- Conselho Estadual dos Direitos da População LGBT (CELGBT)
Endereço: Praça Cristiano Otoni, s/nº – 7º andar – sl. 730 Prédio Central do Brasil – Centro – Rio de Janeiro, CEP:20.221-250
Telefone(s) 2334-9573 – Fax 2334-5545
E-mail: celgbt-rj@social.rj.gov.br
Centros de referência LGBT na Baixada Fluminense
- Duque de Caxias – Centro de Cidadania LGBT
Endereço: Baixada I Rua Frei Fidélis, s/n 25.011-060
Telefone: (21) 2775-9049 (21) 2775-9030
E-mail: superdir.socialrj@gmail.com - Queimados – Centro de Cidadania LGBT Baixada II
Endereço: Rua Otília, 1495- Centro de Queimados
Telefone: 0800 0234 567
Órgãos do Sistema de Justiça de Segurança Pública de apoio LGBTI+
- Disque Cidadania LGBT (0800 023 4567)
Serviço telefônico de atendimento 24h e ininterrupto, cujos objetivos são: orientar e acolher LGBT, familiares e amigos em situação de violência e discriminação; aconselhar LGBT em situação de crise (solidão, processo de descoberta, medo e homofobia internalizada, rejeição familiar, entre outros); informar sobre serviços e ações voltados para LGBT no Estado; encaminhar para rede de apoio social, prioritariamente para os Centros Regionais de Referência LGBT - Comissão de Direito Homoafetivo da OAB/RJ
Endereço: OAB/RJ – Av. Marechal Câmara, 150 – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 20020-080
Telefones: (21) 2730-6525 / (21) 2272-6150
E-mail: atendimento@oabrj.org.br - Assessoria de Direitos Humanos e de Minorias do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
Endereço: Av. Marechal Câmara, 370 – 7º andar – Centro – CEP 20020-080
Telefone: (21) 2550-9050
*Esta matéria faz parte da série Eleição 2020, da Agência de Notícias das Favelas (ANF), e foi escrita por Ludmila Silva, editora regional Sul/ Sudeste da ANF.
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