As mulheres negras representam 27,8% da população brasileira, no entanto, em 2016, o total de eleitas, tanto para vereadoras quanto para prefeitas, não alcançou 5%, colocando-as atrás de homens brancos e negros e de mulheres brancas em ambos os cargos, segundo dados divulgados pelo Movimento Mulheres Negras. Já em 2020, houve um pequeno aumento no número de candidatas negras tanto para vereadoras quanto para prefeitas.
Neste ano, Salvador está registrando um momento jamais visto em toda sua história, tendo duas mulheres pretas na disputa pela prefeitura da cidade. Ambas candidatas carregam consigo a resistência, a luta, as conquistas e a representatividade da mulher negra, com legado de resiliência e superando preconceito.
Maria Olívia Santana, 53 anos, conhecida como Olívia Santana ou “a negona”, é candidata à prefeitura pela Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Pedagoga formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), foi primeira mulher negra deputada estadual da Bahia. Foi faxineira, vereadora, secretária de Educação e Cultura de Salvador, secretária de Políticas para Mulheres e secretária de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia. Integra o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial e o Fórum de Mulheres Negras. É uma das fundadoras da União de Negros pela Igualdade (Unegro).
Denice Santiago Santos do Rosário, 48 anos, conhecida como Major Denice, é a candidata do Partido dos Trabalhadores (PT). Caloura na vida política, é policial militar, integrante da primeira turma de oficiais para mulheres. Rompeu barreiras dentro da corporação, chegando a ocupar o posto de comandante da PM baiana e criou a Ronda Maria da Penha na Bahia. Recebeu o Diploma Bertha Lutz em 2017 pela sua contribuição na defesa dos direitos das mulheres e políticas de gênero. Tem formação em psicologia, é mestra em Desenvolvimento Territorial e Gestão Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutoranda no Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre a Mulher.
Ambas carregam consigo os seus antepassados, representam uma voz que por muito tempo foi oprimida. Estão registrando mais uma vez o poder da mulher, e mais, o da mulher negra que tenta mudar as políticas de ocupações de governo, que são majoritariamente dominadas por homens, brancos e detentores de riquezas.
O que é vinculado diariamente nos meios de comunicação é uma Salvador onde todos são iguais, entretanto na prática não é bem assim, pois os espaços não são compartilhados pelas mesmas pessoas, embora a população negra esteja em maior número, o privilégio e os cargos de poder são usufruídos por pessoas brancas.
É preciso união, principalmente das mulheres para apoiar outras mulheres, em qualquer disputa, e não é diferente no pleito eleitoral, pois esse espaço é conquistado com luta, uma vez que as mulheres brancas são melhores remuneradas que as mulheres negras e homens negros. A mulher, negra, que sempre esteve na parte de baixo da pirâmide, só em 1930 teve o direito ao voto reconhecido.
As eleições municipais 2020, em Salvador, já entram para história com duas mulheres negras candidatas ao cargo de prefeita da cidade mais preta do Brasil, visando mudar a realidade da predominância branca, racista e elitista que insiste em marginalizar e ao mesmo tempo dizer que todos vivemos em harmonia numa democracia racial.