A população não agüentava mais ver os seus queridos policiais ocupando as páginas de jornais, com manchetes pejorativas. Acreditavam que pudesse ser perseguição da imprensa. O presidente da Confederação das Associações de Moradores, cansado das “perseguições”, resolveu convocar uma Assembléia geral Extraordinária para discutir o tema. A reunião foi quentíssima e com muitos acirramentos, pois os policiais desta cidade eram considerados da família. O grupo aborrecido pertencia a classe média e as últimas manchetes estampavam só elementos do Estado Maior. Nos condomínios fechados, nas areias das praias e nos restaurantes cinco estrelas, os comentários eram os mesmos: “ você viu o que falaram do major fulano de tal”?
– Sim eu ouvi. E você leu o que escreveram sobre o tenente coronel bertano?
– Claro. Que judiação. Como podem ser tão cruéis com os nossos agentes da Lei. Todos os citados são de primeiríssimo time. Gente boa. Só prendem pessoas de favelas: negros, pobres.
– O maior dos absurdos, aconteceu naquele telejornal. Mostraram a imagem do nosso amado-armado oficial, acusando-o de mandante de crime hediondo. Isso não vai ficar assim. Eu prometo. Falarei com os amigos do judiciário, eles vão dar um “jeito” nesses jornalistas preconceituosos.
Este era o clima da Assembléia. Duas propostas foram apresentadas. As duas apesar de exóticas passaram. Ninguém naquela Assembléia as acharam estranhas. Naquela cidade chamada maravilhosa, era comum as inversões de valores. O tom era sempre o mesmo: – nós mandamos e vocês obedecem!
As propostas eram as seguintes: contratar os melhores ilusionistas estrangeiros e a outra seria convocar Pais e Mães de Santos.
Os ilusionistas teriam o papel de fazer sumir as imagens negativas, insistentemente veiculadas pela mídia sensacionalista.
Já aos Pais e Mães de Santos, caberia a missão de exorcizar os males que rondavam sobre os policiais e descobrir as suas origens.
O tesoureiro da Associação fez o orçamento e ficou preocupado com o elevado custo das duas missões. Um dos sócios benemérito pediu calma ao tesoureiro, pois conhecia uma ONG que resolveria o problema financeiro da missão, afinal, a causa era justa. Alguém perguntou que ONG seria essa? Prontamente o tesoureiro respondeu: “ Viva Ricos”!
Providenciaram os recursos colocando em prática as resoluções decididas em Assembléia, depositaram nas contas dos destinatários e ficaram aguardando a chegada dos mágicos. Depois de semanas de espera. Veio a triste notícia. Todo dinheiro depositado nas contas dos ilusionistas, como num toque de mágica, havia desaparecido. Pior ainda foi a resposta dos Pais e Mães de Santos. Ao descer no terreiro, após as batidas dos tambores, o Santo Guerreiro aborrecido declarou: “ Isso tudo está acontecendo porque me colocaram como padroeiro desta corporação sem me consultar. Ocês sabe que num fecho errado. Fale com Bastião, talvez ele quebre essa pro cês”.