A desigualdade social é evidente de várias formas nas grandes cidades, como as ocupações e favelas. Dados da Companhia de Habitação Popular (Cohab) apontam que 50 mil famílias vivem em espaços informais de moradia em Curitiba e, segundo o Censo de 2010, a capital paranaense é a 12ª metrópole com o maior volume de pessoas vivendo em ocupações irregulares. A vida nas comunidades escancara diferenças, mas também aflora em lideranças locais um instinto de proteção coletiva.

Júnia Célia da Costa – dona Júnia, para os mais próximos – atua há oito anos como liderança na Vila Joanita. A área abriga cerca de 400 famílias e está localizada na zona norte de Curitiba, na divisa entre o Bairro Alto e o Tarumã. Com 57 anos, dona Júnia segue firme conquistando melhorias para a comunidade e tendo a vida das mulheres como um dos focos.

Indo à luta

Ela protagoniza diversas ações importantes na comunidade, desde 2013. Naquele ano, impediu a realocação de moradores indo até a prefeitura e fazendo uma manifestação que fechou a Avenida Victor Ferreira do Amaral. Em 2021, cedeu o espaço da própria casa para a construção da Associação de Moradores da Vila Joanita.

“A Maria Eugênia, que é a engenheira, chamou vários parceiros e empresas e disse que iria realizar meu sonho do projeto. Elas construíram esse espaço”, conta dona Júnia, sobre a sede da Associação.

A conquista mais recente foi o reconhecimento da principal rua da ocupação. Através

da lei municipal 14.892/2016, que dispõe sobre vias de uso comum por pedestres e veículos por pelo de 10 anos, a Associação solicitou na prefeitura o serviço de endereçamento. E conseguiu.

Projetos

“O meu olhar de mulher e liderança vê a necessidade de ajudar mais e de estar mais atuante dentro da comunidade, principalmente com as mulheres. Por eu ser negra, periférica e órfã, vejo que o sofrimento da mulher ainda não acabou.”

Ana e Arlete em aula de bordado na Vila Joanita. Crédito: Letícia Costa

Nossa conversa aconteceu numa tarde em sua casa, enquanto dona Júnia cuidava de três dos oito netos.  Ela mora no segundo andar da Associação de Moradores da Vila Joanita.

Emocionada, ela lembrou do caso de Suelen Helena Rodrigues, de 29 anos, que foi morta em Curitiba na frente dos filhos. Também lembrou do caso de feminicídio que aconteceu dentro da ocupação. A falta de proteção das mulheres é o que motiva a líder.

Parceiras femininas

Este ano a comunidade recebeu uma equipe da Casa da Mulher Brasileira. Dentre as voluntárias, advogadas e funcionárias da delegacia da mulher. Na roda de conversa, os temas abordados foram leis, onde procurar ajuda em casos de violência e direitos das mulheres.

Além de ações específicas as moradoras também estiveram juntas para realizar oficinas de tear, bonecas de pano, crochê e encontros religiosos.

Experiências

Para dona Ana Maria da Costa, professora das oficinas de bonecas de pano e crochê, as aulas representam um momento de aprendizado até mesmo para quem ensina. Ela passou a vida trabalhando como empregada doméstica.

Hoje, aos 73 anos, ensina o ofício que pratica há mais de 60. “O crochê representa muito pra mim e estar junto com outras mulheres é muito gostoso”, afirma.

Segundo Simone Maccarini, 50 anos, as aulas simbolizam pertencimento. “Eu era sozinha na minha casa, mas agora tenho um afazer todo sábado, e aqui criamos uma amizade”.

Reaprendendo

Para Arlete de Lima, 62 anos, também moradora da Vila Joanita, as aulas são a terapia que encontrou. “Eu sabia tudo de crochê, tive cinco derrames e agora é como se eu estivesse reaprendendo”, explica com a voz quase inaudível.

A vice-presidente da Associação, Maria Delma Azevedo, 50 anos, comenta que “está sendo ótimo, essa é a segunda oficina que eu participo”.

Segundo dona Júnia, “se toda comunidade tivesse algo assim, a galera ia valorizar mais o local onde mora e ia ter menos violência.”

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