A quadra poliesportiva do bairro da Mangueira, em Paraty (RJ), serviu de palco para diálogos emocionantes a respeito da vivência escolar e para o show de pagode do grupo Pele Preta.
Pela primeira vez no bairro mais populoso do município, o projeto realizado pelo Sesc Paraty, o Papo Dez, deu voz aos professores Luiz Paulo Albino, Elenildes Reis e à arte-educadora Karina Braz. A conversa aconteceu ontem, dia 27 de outubro.
A programação dos dois dias de evento foi elaborada por jovens em encontros semanais no Sesc Santa Rita durante os últimos meses e teve colaboração da associação de moradores.
Hoje, dia 28, o tema do último debate terá como fio condutor a produção cultural periférica, enquanto rap e música popular encerram a noite. As próximas atividades estão em fase de criação pela administração do Sesc, em parceria com a juventude.
Provocações saudáveis do primeiro dia
A primeira roda de conversa foi mediada pela historiadora Suelen Moreira, que provocou o trio com questões sobre as potências da periferia, a inclusão de estudantes com deficiências e os desafios enfrentados pelas famílias para manter os filhos nas escolas.
Propor oportunidades multidisciplinares são métodos que dialogam com o crescimento dos estudantes e “a história mais importante sempre será a nossa”, afirmou.
A aposta de Elenildes Reis está na educação infantil e na pedagogia do afeto. “A gente só precisa dar as ferramentas. Escutar com atenção pode ser uma delas”, disse a professora, que também é vice-presidenta da Associação de Moradores da Mangueira, ao trazer para o debate o modelo pedagógico que escolheu seguir durante 36 anos de atuação.
Ela foi categórica ao tratar da acessibilidade em sala de aula: “É mentira quando dizemos que o acesso é democrático. Estamos iludindo quando dizemos que incluímos.” Segundo ela, falta formação adequada para professores lidarem com as realidades da rede pública de ensino.
Paraty além das mortes de jovens pretos e periféricos
O Papo Dez é um projeto do Sesc Paraty criado após a divulgação do Mapa da Violência em 2016, que apontava o município de 40 mil habitantes com a maior taxa de morte por arma de fogo sendo, ainda, a mais violenta do Estado.
Paraty ocupava o 48º lugar numa escala de 150 cidades brasileiras. O perfil das vítimas assassinadas era jovem, negro e periférico. “Estar aqui é quebrar barreiras, é trabalhar as acessibilidades plurais: deixar acessível as ações socioculturais”, disse a coordenadora da iniciativa, Priscila Rodrigues.
Karina Braz entrou para a arte-educação depois de ver parte das composições autorais sendo trabalhadas por professoras de regiões costeiras, áreas mais próximas do mar. Inspirada pela rotina da vida caiçara, também reconhece a força criativa da comunidade. “A periferia é muito rica.”
Com foco na acessibilidade do público infantil, desenvolve um projeto audiovisual com o auxílio da tradução em libras. “Todo dia avanço quando alcanço uma pessoa e compartilho palavras que vão agregar.” O material está disponível nas plataformas digitais.
Professor relembra as origens
Na educação há 23 anos, Luiz Paulo Albino relembrou da infância no bairro e fez menções ao fato de ter sido aluno de Elenildes Reis. “Voltar a este território é voltar ao passado, lembrar daquilo que não tive enquanto criança, e ao mesmo tempo saber que há um novo tempo para a juventude.”
Para atuar como educador, defendeu que é preciso ter muitos planos para lidar com dificuldades diárias e buscar apoio em outras esferas, como a ajuda de responsáveis e representantes públicos.
A comunidade prestigiou a apresentação do grupo de pagode Pele Preta, composto pelos jovens Carlos Souza, Guilherme Martins, Peterson Petin, Pedro Nascimento e Cainã Ramos, moradores do Quilombo do Campinho da Independência.
O ponto alto da apresentação, além da afinação do vocalista Lázaro Ramos, foi a espontaneidade e a sintonia que os músicos têm entre eles.
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