A exoneração não foi publicada no Diário Oficial da União, mas Abraham Weintraub já se considera ex-ministro da Educação, e confessa que tem pressa em deixar logo o Brasil para trabalhar no Banco Mundial, onde o salário é de US$ 21 mil (algo em torno de 115 mil reais), sem ter que cortar cotas nem fazer discurso ideológico retrógrado e mentiroso todo dia. Ontem, 18, quando leu sua demissão diante de um Jair Bolsonaro alheio e perdido em tenebrosos pensamentos, Weintraub adiantou o “convite do Banco Mundial” – possivelmente a última meia-verdade proferida antes de deixar o governo.
“Neste momento, eu não quero discutir os motivos da minha saída, não cabe. O importante é dizer que eu recebi o convite para ser diretor de um banco. Já fui diretor de um banco no passado. Volto ao mesmo cargo, porém no Banco Mundial”, disse na despedida.
A verdade inteira é que a boquinha no exterior é rica, sobretudo num governo como o do presidente Bolsonaro, que não se importa com a opinião que têm sobre ele lá fora. Entretanto, o Banco Mundial tem diretoria colegiada, o Brasil é importante no contexto e a vaga está aberta desde o ano passado, quando Fábio Kanczuk assumiu a diretoria de Política Econômica do Banco Central. O cargo de diretor-executivo do banco depende primeiro da indicação do ministro da Economia, Paulo Guedes à instituição, já feita.
O nome de Abraham Weintraub precisa, então, ser aprovado pelos países que o Brasil representa: Colômbia, Equador, República Dominicana, Panamá, Haiti, Suriname, Trinidad e Tobago e Filipinas. Os governos desses países estão recebendo abaixo-assinado desaconselhando “fortemente a indicação do Sr. Weintraub para este importante cargo e informá-los sobre os possíveis danos irreparáveis que ele causaria à posição do seu país no Banco Mundial”. A carta é subscrita por mais 50 personalidades, entre elas o ex-embaixador Rubens Ricúpero, o empresário Philip Yang, os economistas Laura Carvalho e Ricardo Henriques, o advogado e professor Thiago Amparo e a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz.
Historicamente, as indicações ao BIRD são aprovadas sem problemas, mas esta é a primeira vez que um brasileiro identificado com a extrema-direita é nomeado, o que não deverá ser obstáculo à aceitação, mas criará arestas políticas no cenário internacional em mais um setor no qual o Brasil é respeitado até hoje.
“A cadeira brasileira está vaga. Não há um representante do Brasil”, disse o ex-diretor e ex-vice-presidente do banco Otaviano Canuto, que ocupou a cadeira de diretor-executivo, assim como o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan; o embaixador Marcos Caramuru; e o ex-secretário do Tesouro Nacional Murilo Portugal; entre outros.
Outro facilitador para o pé-de-meia de Weintraub nos Estados Unidos é que o emprego é temporário; em novembro o conselho do Banco Mundial, com todos os países que o integram, elegerá a nova diretoria para um mandato de dois anos. Desde a saída de Kanczuk, no meio do seu mandato, a vaga brasileira é ocupada interinamente pela economista filipina Elisa Augustin. Para continuar banco a partir de novembro, o novo representante brasileiro precisará dos votos também dos Estados Unidos, da China, da França, da Alemanha, do Reino Unido e do Japão. É aí que a agenda ideológica pesa.