Desde o início de minha trajetória como colunista semanal do portal da Agência de Notícias das Favelas, procurei colocar a favela, os favelados e seu entorno como o foco de meus textos. Afinal, não é todo dia que temos a favela como protagonista; não é em todo lugar que podemos expor, de acordo com a nossa vivência, questões que permeiam nossas vidas – desde a violência perpetrada pelo Estado até as notícias boas e projetos que nos enchem de esperanças na mesma medida em que pouco são falados na grande mídia. Este período produtivo chega ao fim, e hoje me despeço deste espaço semanal.
Na minha experiência pessoal, houve um encontro necessário e feliz com a mídia alternativa, com um longo histórico de defesa e de elevação da nossa autoestima enquanto favelados, que eu desconhecia e com a qual sentia a falta de ter um acesso mais direto. A oportunidade de expor minhas ideias e ter acesso a liberdade de expressão neste veículo foi de grande valia, uma experiência que indico àqueles que se sentem oprimidos e injustiçados e procuram uma maneira de expor isso a milhares de pessoas que hão de concordar com as suas ideias, aflições e comemorar boas novas. É fundamental que tenhamos as mídias alternativas a nosso favor para que a democratização da informação seja realmente colocada em prática.
Assim, nesse clima de despedida da minha coluna semanal, eu agradeço imensamente o espaço que me foi cedido e as impressões, experiências e trocas que me foram permitidas. Esbarrar com alguém que vem me dizer que leu o que eu escrevi e se identificou é de uma alegria e satisfação pessoal imensa. É também um dos motivos pelo qual vale a pena escrever e ter a certeza de que você realmente foi compreendido.
Meu desejo é que haja cada vez mais espaço para as pessoas exporem de maneira ética as suas ideias, e que essa experiência ajude a acelerar o processo de mudança pelo qual nós favelados tanto clamamos. Disponho de toda a minha gratidão, e que possamos nos deleitar com as palavras da Simone Menezes, militante e colunista que passa a ocupar este lugar. Esta despedida não é um adeus, mas um “até logo”! Sempre que necessário e possível, voltarei a postar as notícias que envolvem o universo da nossa vivência aqui, na primeira favela do Brasil, o Morro da Providência.