Enquanto países europeus suspendem ou cancelam o ano letivo, sem reprovação de alunos por causa da pandemia, outros no hemisfério sul investem no ensino à distância como forma de manutenção do ensino regular reconhecido pelos governos. O resultado é pais e professores recorrendo à justiça para manter o direito dos discentes às aulas presenciais quando passar a pandemia.
A maior parte desses países se encontra em flagrante desvantagem em relação aos do norte, onde internet e computadores pessoais em todas as suas variantes são amplamente disseminados e o ensino à distância prática testada há anos.
Segundo a Programa Nacional de Amostra por Domicílio, Pnad, em 2017, 65% dos domicílios fluminenses tinha acesso à banda larga, enquanto no Pará eram 29% e no Distrito Federal 78%. Independentemente das disparidades regionais, o método dá margem a outros questionamentos, como a absorção do conteúdo pelo computador e a dificuldade de esclarecer dúvidas na hora, além da ausência do convívio escolar, base da formação da personalidade das crianças e dos adolescentes.
Mary Guinn Delaney, assessora regional da Unesco em educação para saúde e bem-estar na América Latina e Caribe, lembra que estudantes sem acesso a rádio, televisão e dispositivos online são os mais prejudicados pelos programas de educação à distância, e o uso apenas de materiais impressos não oferece suficiente interação com professores e outros alunos.
Ela chama atenção ainda para a equidade de gênero nessa forma de ensino: “Meninas podem estar em desvantagem no acesso e uso de dispositivos, além de terem menos tempo de aprendizagem devido às tarefas desproporcionalmente maiores do lar”.
No caso brasileiro, o ensino à distância começou a ser amplamente debatido durante a última campanha eleitoral pelo viés ideológico da escola sem partido, em que acreditava-se que os alunos estavam sujeitos a doutrinação dos professores desde o maternal. Falou-se muito, na época, em “home-schooling”, antiga prática norte-americana para suprir a ausência de escolas no interior do país. Mães e pais eram tornados professores das crianças, que prestavam exames ao atingir a idade adequada.