A pré-estreia é hoje às 21:30h no Espaço Itaú de Cinema que fica na Praia de Botafogo, 316.

Campo de Jogo 1

No Rio de Janeiro, perto do mítico estádio Maracanã, palco da grande final da Copa do Mundo de 2014, encontramos o campo popular do bairro Sampaio. Lá acontece o futebol como expressão genuína da cultura brasileira. Disputado aos domingos, o campeonato anual de favelas reúne 14 times. Cada um representa as cores e os rituais de sua comunidade. Geração X Juventude disputam a final.

Através de seus jogadores e torcedores, “Campo de Jogo” revela vários aspectos da cultura brasileira e do amor pelo futebol. O filme de Eryk Rocha une reflexão e entretenimento, brincando com a emoção do público ao retratar o futebol sob o ponto de vista do ritual, da dança, apresentando uma nova dimensão do jogo, em que cinema e futebol se amalgamam. A tensão dos jogadores e das torcidas se mistura à tensão do espectador e do fluxo imponderável do filme-jogo. É um ritual quase sagrado em que a religiosidade se mistura às formas de confronto numa arquitetura muito simples, cercada de favelas que nos remete aos espaços religiosos de matrizes africanas. Um lugar mítico em que brasileiros de todas as idades se encontram para simplesmente fruir o futebol, jogando, torcendo ou apenas se reunindo com os amigos.
O “Campo de Jogo” é um lugar de todos. Juiz, jogadores e torcedores; pais com bebês no colo, mulheres e crianças, todos estão ali dentro de campo participando da partida, daquela festa dionisíaca que cumpre o seu papel de alegrar, mas também de liberar as tensões, dramas sociais e as adversidades do dia-a-dia. Um simples domingo se transfigura e ganha um caráter épico, uma simples partida (pelada) vira um embate, um transe dos corpos. De forma lúdica e também densa, “Campo de Jogo” oferece uma nova leitura do futebol, do qual parece que tudo já foi dito e visto.
O filme apresenta um contraponto ao futebol midiático “padrão FIFA”, através de uma visão muito distante do futebol espetáculo/mercadoria, apontando seu foco para a relação de fervor e paixão do indivíduo com o jogo e, sobretudo, como essa relação revela tantos traços do povo brasileiro.
A visão de “Campo de Jogo” vai de encontro a uma questão crucial que se acentuou após a participação da seleção brasileira na recente Copa do Brasil: onde está a essência e o que move esse esporte que é, talvez, o maior fenômeno mundial e a maior paixão nacional? O filme oferece uma leitura inovadora do futebol através do ritual, da dança e do sagrado, revelando traços significativos da cultura e origem da sociedade brasileira ao mesmo tempo em que oferece um contraponto importante neste momento com o futebol profissional, midiático, jogado por grandes estrelas, como foi visto recentemente. “Campo de Jogo” mostra o prazer, a devoção, a fé, a alegria e o confronto do futebol, num campo de terra, com pessoas comuns, ao mesmo tempo em que desmistifica a imagem das favelas brasileiras, mostrada na maior parte dos filmes que as abordam ou que as tem como locação. A linguagem de “Campo de Jogo” é a partida. O filme se mistura com o jogo, o espectador às vezes se funde com o torcedor, numa trasbordante experiência estética.
Campo de Jogo