Esse texto é sobre a incrível história, contata várias vezes, sobre os dados apresentados pelo jornal o Globo de hoje, sobre “abismos entre bairros de ricos e pobres”. Estamos cansados de saber a diferença da situação que estão às favelas e os bairros ricos do Rio. O que queremos saber é quando as favelas vão deixar de ter as piores concentrações de renda e as piores prestações de serviços básicos pelo Estado.
Já que nossa mídia não é a “padrão”, a ANF tem posicionamento sobre o tema e participa do cotidiano de algumas favelas citadas na matéria. Por isso, vamos emitir nossa opinião sobre responsabilidades.
Começamos pelo nosso querido Jacarezinho, segunda pior concentração de renda média logo atrás de Acari. No Jaca, onde a ANF tem uma intensa participação cultural e educacional, segundo dados apresentados, a média fica em R$ 411,23 por família. Com essa média mensal, podemos tentar imaginar o inimaginável, que é como essas pessoas fazem para sobreviver. Que tipo de emprego é oferecido pela sociedade, leia classe alta e média, para a maioria dos trabalhadores da nossa cidade. Sabemos que a maioria dos que moram nas favelas, não estão vinculados a criminalidade, senão a renda não seria tão baixa, mas é categórico que os empregos oferecidos pela sociedade e o total descaso dos governos com essa realidade, se configuram nos maiores crimes da história da humanidade. Relegar seres humanos a terceiro plano cegando-os com o analfabetismo, com a falta de esperança, com a discriminação, a opressão e promovendo e aceitando as chacinas que dizimam a juventude negra, é o que precisa ser imperiosamente mudado.
Com uma brutal concentração de riquezas e morando em bairros com os melhores serviços públicos, os ricos exigem as peripécias da segurança pública dos governos. Já os pobres, não possuem riquezas, tem os piores serviços públicos e sofrem com a segurança pública exigida pelos ricos. Com todas essas contradições a figura do pobre precisa ser alçada a de um guerreiro, que não tendo saneamento básico, com as chuvas alagando suas casas, as doenças manifestadas sendo as mais primitivas e as mais letais, com os piores serviços de saúde e educação, sem nenhuma valorização cultural e sem áreas de lazer e com a violência do estado, só resta a esse o milagre de conseguir respirar e ainda recriar as possibilidades nas impossibilidades. Podemos contar muitas histórias fundadas nessa realidade de pobreza que vive o Jacarezinho e centenas de outras favelas mais, mas o tema da concentração de renda ainda é o que me faz continuar a analisar o obvio, enquanto houver pessoas se enriquecendo em detrimento de outras, nada poderá ser mudado. Para os governos, o pobre se chama voto e o rico oportunidade, de vida e poder.
A ANF, através de seus colaboradores, que moram em favelas, conseguiu alcançar o recorde de informações, passadas em tempo real, durante a ocupação da Rocinha. Lá, segundo o censo, a renda mensal não ultrapassa os R$ 488,11. Enquanto isso, alguns metros dali, a renda média de alguns condomínios do vizinho Joá, tem renda média de 16.906,04. O bairro com R$ 5719,85, o da Lagoa liderando com R$ 6160,04 e o também vizinho São Conrado com renda média de R$ 5005,74.
Enquanto fica em R$45.692,91 a média total, da renda dos dez bairros mais ricos, oposto a isso e assombrosamente, ficam em apenas R$4.040,50 a renda total dos dez “bairros” mais pobres. Esses dez bairros mais pobres têm, somados juntos, um pouco menos do que é a renda média só do bairro do Jardim Botânico. É uma verdadeira lástima!
Em primeiro lugar devemos esquecer a conotação de bairro para esses locais paupérrimos. Estamos falando de favelas! Bairro é sempre identificado com espaço urbanizado, bem estruturado e com uma boa oferta de serviços públicos. O que entendemos por favelas são esse locais onde, além de faltar tudo, as pessoas sequer possuem uma renda que as possibilitem de viver com o básico.
Como resolver essa grande desigualdade social é o que a reportagem não diz. Não é possível que os filhos da classe média e alta freqüentem os melhores colégios e os melhores cursos das universidades, enquanto o pobre carioca padece do segundo pior ensino público do país. Na favela entram os projetos de ensino de costura, panificação, artesanato, marcenaria, tele marketing e etc., ou seja, para os empregos mais mal remunerados. Antes que os bem intencionados de plantão me bombardeiem digo que não sou especialmente contra, mas vamos inverter então um pouquinho. Colocamos esses cursinhos agora, para os filhos da classe média e alta, e os favelados para estudar medicina, engenharia, petróleo, nanotecnologia, direito, etc., ou seja, os que formam para os empregos mais bem remunerados. Garanto que essa idéia não passa, pois todas as massas, que representam a classe média e alta, vão queimar até pneu nas ruas e os políticos, que são frutos dessa origem vão babar de ódio. Sendo assim, para resolver parte dos problemas da desigualdade social, é fundamental que o pobre tenha ensino de qualidade, que tenha bons empregos e que assim se valorize também os cargos mal remunerados.
É fundamental que, além desses empregos deixarem de ser mal remunerados, também tenham as mesmas jornadas de trabalho que qualquer outro emprego. Para que o pobre possa se dedicar ao lazer, a cultura, a família, aos amigos e ao estudo também. Nesse sentido também é fundamental a existência e ampliação das creches.
Para finalizar, não é possível que no meio de avanços para curas de doenças tão complexas, o pobre ainda sofra e morra com leptospirose, hanseníase, tétano e outras doenças que no resto da cidade já foram extintas. É imperante o saneamento básico para todas as favelas, a canalização da água da chuva, o fim dos valões, o extermínio de pragas e construções de postos e hospitais públicos de qualidade, com todos os serviços de atendimento ao paciente.
Que a cultura e o lazer nas favelas sejam respeitados e valorizados. Que o favelado também tenha direito não só as artes que surgem nas quebradas das vielas e das quadras, como também de todas as formas de cultura, artes esportes que sobram nos museus, teatros e clubes da Zona Sul.
No mais, o povo pobre é o que mais entende da dura realidade que vive a maioria das pessoas em nossa cidade e, por isso, é fundamental que ele seja parte de todo os processos de transformações. É ridícula toda a forma de representação, que relega a essas pessoas apenas o papel do voto.
Encerrando, queremos democracia e participação conjunta em todas as decisões que afetem a vida cotidiana dessas favelas.
Esse texto é parte integrante do dia a dia, dos que divulgam e lutam pela melhoria dessas favelas.