Direto dos Milwaukee, nos Estados Unidos, o cineasta Eric Montenegro, descreve os protestos antirracistas que explodiram no país após o assassinato do afro-americano George Floyd pelo policial branco Derek Chauvin, em Minneapolis.
A morte foi gravada em detalhes, mostrando Floyd dizendo repetidamente: “I Can’t Breathe!” (“Não consigo respirar”). O vídeo viralizou nas redes sociais influenciando um dos maiores levantes antirracista dos últimos tempos.
As manifestações tomaram todo os Estados Unidos e em Milwaukee, a cidade mais populosa do estado do Wisconsin, que também sofre com a violência policial, é palco dos atos na luta por igualdade racial. Eric Montenegro é correspondente colombiano-americano e mora uma comunidade mexicana, local que antes mesmo dos últimos fatos que marcaram o país, já tinha protestos de movimentos sociais contra o racismo. Segue abaixo a entrevista feita com o cineasta.
- Como está acontecendo os atos antirracistas na sua comunidade?
Eric Montenegro: Em nossa comunidade, Milwaukee, há muitos anos acontece a mesma luta contra o Estado, principalmente a violência policial contra afro-americanos e latino-americanos. Uma coisa super interessante é a participação de pessoas que nunca participaram de nenhuma manifestação antes. Temos organizadores experientes, mas a maioria do povo que está aqui, são pessoas que participam pela primeira vez. Até uma brasileira sempre participa dos atos.
- A população está apoiando os protestos?
Eric Montenegro: Sim, oferecem água, comida, remédios e serviços é uma infraestrutura orgânica, mas com muito poder.
- Como era a luta antirracista em sua comunidade antes dos últimos episódios que desencadearam os protestos que tomaram o país e o mundo?
Eric Montenegro: Milwaukee é uma cidade muito segregada, temos a comunidade mexicana de um lado, a comunidade branca de outro lado e a comunidade afro-americana no norte da cidade. Muitas pessoas são assassinadas pela policia nas periferias, mas a maioria negros e latinos por violência policial. E por isso, há anos estamos organizados na luta. Muitos atos aconteceram por causa da morte de outras pessoas inocentes, alguns atos são reprimidos com bala de borracha e mais violência.
- Como é a sua participação nesses movimentos? E você faz parte de alguma organização?
Eric Montenegro: Sou cineasta, também colaboro com mídia livre, Black Lives Matter, que é um movimento nas redes sociais orgânico, todos podem participar sem precisar participar de uma estrutura institucional. Nos protestos faço alguns videos e fotos, mas com o cuidado de não mostrar o rosto das pessoas que estão lá, para não servir de possível provas contra elas a serem usadas pelo Estado. Também toco tambor e participo da criação de uma nova organização autogestionária na comunidade que moro.
Abaixo a galeria com fotos e vídeo de Eric em uma das manifestações antirracistas nos Estados Unidos.