Magg Andrade é formada em Engenharia elétrica, pós-graduada em Gestão de Projetos pela Uerj e idealizadora do Engenhar
“O Engenhar é uma organização não governamental com sede no Brasil que tem por objetivo utilizar a capacitação de profissionais de várias áreas de atuação com o intuito de sanar carências existentes na sociedade de modo a fazer da solidariedade o caminho para uma vida melhor. O Engenhar começou com a vontade de fazer trabalho voluntário, mas principalmente um algo diferenciado na vida das pessoas em comunidades, voltado para infraestrutura, sustentabilidade. Um exemplo é o modo como trabalhamos com educação ambiental no Jardim Gramacho, fazendo o aproveitamento da água de chuvas.
A Voz da Favela: Em que ano o Projeto começou?
Magg Andrade: Novembro de 2016.
AVF: Você trabalha numa área onde um dia foi um lixão e que carece dos serviços mais básicos, como foi o desafio inicialmente pra você?
MA: O desafio não foi, o desafio é! Trabalhar no Jardim Gramacho é um desafio semanal e hoje, como temos equipes bem definidas, divididas por projeto é até melhor de se trabalhar, mas não foi sempre fácil. O JG deixou de ser oficialmente um lixão mas continua lá. As pessoas continuam vivendo dentro do lixo. É uma realidade muito cruel e o governo não comparece. Lá não tem água potável e precisamos fazer campanhas para abastecer a área. Quem tem água encanada é através de clandestinagem e a gente tenta ajudar da melhor forma possível, procurando transformar pequenos mundos.
AVF: De certa forma, além de transformar vocês tentam conscientizar?
MA: Sim, a gente faz o possível para levar conscientização e educação ambiental. O nosso propósito é uma mudança de paradigmas.
AVF: O que mais te motiva a seguir presente dentro de um território onde o Estado é ausente?
MA: Saber que posso fazer alguma coisa, saber que existe a esperança do outro no nosso fazer. A pessoa que está numa situação, como o pessoal do JG ou de situação de risco, espera alguma coisa, uma ajuda, um milagre e eu quero muito que o Engenhar seja isso na vida das pessoas. Independente de qualquer coisa ou religião, temos parceiros que fazem essa parte de levar a palavra de Deus. A gente fala de coisas concretas no sentido de fé e muita ação, o Engenhar é isso. Acima de tudo temos fé em Deus, mas também no nosso trabalho e se o Estado não faz a gente quer fazer, mesmo que do nosso jeito, devagar, sempre planejando. O que me motiva é ver as pessoas sorrindo, agradecendo, mudando suas vidas.
AVF: Qual a relação da água potável com a saúde? A quais doenças além da dengue o morador da zona de exclusão está exposto?
MA: Investir em saneamento básico é investir em saúde. A cada R$ 1,00 gasto com tratamento de esgoto, são economizados R$ 4,00 em saúde pública. O esgoto encanado é tão importante para melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que um dos objetivos do milênio (uma série de metas socioeconômicas que os países da ONU se comprometeram a atingir até 2015) é reduzir pela metade o número de pessoas sem rede de esgoto.
Isso porque a ausência de tratamento traz doenças que afetam pessoas de todas as idades, mas as crianças são as mais prejudicadas. Estas doenças são causadas principalmente por microrganismos patogênicos de origem entérica, animal ou humana, presentes em água contaminada como Febre Tifóide ( doença infecciosa que causa febre e mal-estar ) , Cólera ( Doença intestinal ) e Hepatite A (Febre, mal-estar geral e falta de apetite).
AVF: Você acredita que a preservação do meio ambiente e a conscientização do uso da água deveria ser ensinado nas escolas?
MA: Com certeza! A criança desde cedo precisa saber a fazer o uso consciente da água. Ela precisa crescer sabendo que pode fazer captação de água de chuva para economizar água, uma hortinha na casa dela, entre outras coisas. A educação ambiental mudaria o país sem dúvida.
AVF: Qual o principal ideal do Engenhar?
MA: O Engenhar acredita na vida. Na vida que se movimenta, na vida que muda, na vida que equilibra, na vida que muda paradigmas. O Engenhar vem para mudar paradigmas na vida das pessoas que é o mais importante para o nosso trabalho.
Matéria publicada na edição de junho de 2018 do jornal A Voz da Favela