Ao chegar a uma das escolas públicas de Colombo, município da Região Metropolitana de Curitiba, logo se percebe que o ambiente está bem diferente do que costumava ser: nos pátios e quadra, há o contraste entre o silêncio da falta dos alunos e os desenhos esperançosos deixados nas paredes por eles. Nas salas de aula, carteiras, quadro e atividades penduradas dividem espaço com sacolas de alimentos.
Antes da pandemia do Covid- 19, as merendas eram distribuídas todos os dias para os estudantes durante os quinze minutos de intervalo. Muitas famílias dependem desses alimentos, afinal, uma das poucas refeições às quais elas têm acesso.
Como as aulas foram dispensadas no Paraná, a merenda não é mais oferecida todos os dias, mas kits de alimentos passaram a ser distribuídos quinzenalmente para os estudantes em vulnerabilidade social. Na Escola Estadual Caminhos da Natureza, do 6° ao 9° ano do ensino fundamental, todas as funcionárias estão colaborando divididas em grupos, para evitar aglomerações. Um grupo trabalha na montagem e separação dos kits, e outro trabalha na distribuição, recolhimento de assinaturas de quem recebe, e registro em ata.
Foram distribuídos cerca de 60 kits, que continham alguns itens de cesta básica, carne, frutas, verduras e legumes. São 70 famílias cadastradas, mas nem todas conseguem ir até a escola buscá-los e dependem da disponibilidade (e empatia) da direção para levar até elas.
A diretora, Luciana Garagnani de Oliveira, afirma que vê essa ação de forma bastante positiva para o momento:
“Quando estamos à frente desse trabalho nos deparamos com realidades que, muitas vezes, parecem estar distantes de nós. À medida que vamos conhecendo as famílias e sabendo da dificuldade de cada uma percebemos a importância desses kits para essas pessoas. Muitas dessas famílias estão sem renda nenhuma. É triste. Sabemos de casos de famílias que estão contando com a ajuda desse kit para se alimentar. Muito além de questões políticas, penso que isso é o mínimo que podemos fazer. Se existe um estoque de merenda nas escolas, e não estamos recebendo nossos alunos, nada mais justo que essa merenda chegue até eles”.
Ela se empolga com a descoberta da relevância da iniciativa:
“Sabemos que muitos estão criticando essa ação, mas uma verdade eu te digo: quem está recebendo está agradecendo muito. A prioridade é a saúde e o bem-estar de todos. Ninguém que não tenha o que comer pode estar bem. Lembrando que não é uma cesta básica, mas o pouco que está sendo distribuído tem sido muito para algumas famílias. Todos os cuidados estão sendo devidamente tomados na escola. Máscaras são distribuídas a cada duas horas, e álcool em gel é disponibilizado para todos. Conscientemente, as funcionárias se revezam até mesmo durante as refeições para garantir a segurança. A escola também tem orientado os estudantes que não conseguem acessar o aplicativo da Aula Paraná, além de disponibilizar material impresso para esses”.
A diretora destaca ainda que ações como esta mostram a importância da valorização da educação pública na sociedade brasileira como maneira de combater a desigualdade social e dar assistência às pessoas que dela precisam: “Portanto, é importante respeitar e apoiar as pessoas que precisam se expor ao risco de contaminação para ajudar quem precisa de seus serviços”.