Um novo ano é a oportunidade ideal para mudanças.
Confiar em uma escola para colocar filhos e filhas é um trabalho que requer pesquisa, visita e uma capacidade de desprendimento que só se alcança quando a instituição consegue se mostrar capaz o suficiente para cuidar da joia mais preciosa de pais e mães.
Muitos responsáveis não confiam no ensino público, o descaso do governo faz com que, apesar de pagarmos impostos para uma educação de qualidade, seja “obrigação” procurar uma escola particular. A questão é que várias delas não cumprem com suas obrigações legais com professores e funcionários, o que resulta em profissionais desmotivados, frequentes conflitos com alunos e uma ranhura no processo ensino/aprendizagem.
“Já ensinei em uma escola que trata a educação de forma sagrada e não recebia dinheiro de transporte, não recebi o valor extra das aulas de recuperação e o atraso era constante, mas o que mais me incomodava é que a cobrança era a mesma e ninguém dava nenhum tipo de satisfação, era uma situação complicada.”
A professora que deu esse depoimento pediu para não ser identificada, o que mostra o medo dos professores de perderem seu emprego ao tentar reivindicar seus próprios direitos. O coração de uma escola é o professor, o mesmos já passam por situações rotineiras nas escolas que dificultam os seus trabalhos – salas cheias, alunos com pouca noção de educação, falta de equipamento -, o mínimo seria que honrassem com todas as suas obrigações.
“Me recusei a aceitar o fato de que não receberíamos o valor extra da recuperação, fui conversar com a diretora e no outro dia estava demitido.” No whatsapp, os grupos voltados à divulgação de ofertas de emprego na área de educação criaram uma lista de escolas que os profissionais de ensino deveriam evitar.
Essa lista já passa dos sessenta nomes, envolvendo características como assédio moral, não depósito do FGTS, salários abaixo do piso e etc. “Sempre ensinei em escolas de bairro, quando fui para uma ‘conhecida’ escola de Salvador, pensei que seria diferente, foi até pior”, esses e outros relatos são frequentes.
Normalmente, os pais se preocupam com a mensalidade e estrutura, mas a forma como os professores são tratados é muito importante para o desenvolvimento do filho. Um professor desmotivado pode causar estragos que nem ele mesmo imagina. O MEC deveria estar com um olhar mais atento diante dos direitos de nossos professores, afinal, se os jovens são o futuro da nação, os professores são o presente.
* Matéria publicada no Jornal A Voz da Favela, Salvador, edição de janeiro 2019