As feiras literárias, que em teoria deveriam ser celebrações da literatura, cultura e arte, muitas vezes revelam-se como verdadeiros palcos de hipocrisia e exploração. É um espetáculo lamentável presenciar como alguns autores, especialmente os menos conhecidos ou independentes, são tratados nesses eventos que deveriam ser oportunidades de promoção do conhecimento e da leitura.
Em algumas dessas feiras, os escritores são tratados como figurantes de um espetáculo, onde não recebem cachê, transporte, alimentação ou hospedagem. Para piorar, são solicitados a contribuir com equipamentos, trabalhos gratuitos, doações de livros etc, sem qualquer compensação financeira. Afinal, por que pagar quando você pode explorar o desejo de visibilidade e reconhecimento de alguém?
A engrenagem do mercado editorial, que deveria funcionar como um sistema que valoriza o talento e o trabalho árduo dos escritores, frequentemente se mostra cruel e desigual. Muitos autores, cheios de sonhos e paixão pela escrita, enfrentam dificuldades financeiras e enxergam nas feiras literárias uma oportunidade de divulgar seu trabalho. Entretanto, essa oportunidade é frequentemente ofuscada pela ausência de reconhecimento e remuneração adequada.
Feiras literárias menores, que ainda mantêm um vislumbre de crença na literatura e nas manifestações culturais, podem parecer uma luz no fim do túnel. No entanto, quando festas literárias maiores, que se tornam verdadeiras empresas com CNPJ e tudo, priorizam o lucro em detrimento da valorização dos artistas, a situação se torna ainda mais desanimadora.
Temos que repensar essa realidade. A conscientização e a mobilização da comunidade literária são fundamentais. Boicotes e protestos podem ser formas eficazes de chamar a atenção para as condições desfavoráveis que alguns escritores enfrentam nessas feiras literárias.
Entendemos que a situação é complexa, e muitos autores se sentem pressionados a participar desses eventos para ganhar visibilidade e divulgar seus trabalhos. No entanto, é fundamental que a sociedade como um todo, incluindo leitores, editores e organizadores de feiras, reconheça a importância de valorizar o trabalho dos escritores.
A literatura é parte essencial da cultura e da sociedade. Escritores desempenham um papel fundamental nesse processo, e é nosso dever assegurar que sejam tratados com o respeito e a dignidade que merecem, tanto nas feiras literárias quanto em todas as etapas de suas vidas como artistas.
A democratização do acesso à literatura e o direito à leitura são valores que não devem ser esquecidos. Afinal, para virarmos verdadeiros mares de conhecimento, precisamos garantir que todos os barcos, grandes ou pequenos, tenham a chance de navegar em águas literárias justas e igualitárias.