Mais uma semana, e giramos sobre os mesmos temas e notícias. Como disse antes, o navio negreiro aportou no cais, e daí por diante, tudo é possível.
Segundo os dicionários da língua portuguesa, “esculacho” significa repreensão ou censura áspera, rude, ofensiva, maltrato, descuido, agressão. Possui como sinônimo a palavra “esculhambação”, que significa avacalhação, desmoralização.
É o que estamos vendo. Nos noticiários, os grilhões no pulso e nos pés do Cabral, o topo da sociedade tornando exemplo um dos seus por ter sido ganâncioso e ultrapassado a linha do “aceitável”, como é de costume desde 1500 quando se trata da espoliação do estado. Enquanto ele arrasta os ferros, boa parte dos espectadores em frente à tela sentem prazer no que veem.
O problema não é o fato, é a forma. O problema já está sendo resolvido através do julgamento das suas ações. Espero que tudo que ele tenha seja arrestado, porque o bolso é a parte do corpo mais dolorida para os gananciosos. Pessoalmente, porém, não gosto do tratamento a ele oferecido. Mais uma vez, nos remete à escravidão, às chibatadas, ao açoite público.
Novamente, o velho Collor de Mello volta à candidatura majoritária para nos brindar com sua “capacidade gestora” e seu “caráter impoluto”. Finalmente, a novela Cristiane Brasil chega a uma definição com sua efetivação no cargo de ministra-que-quase-não-foi, com velhas tramas e personagens, novas formas de assegurar ou reafirmar direitos.
É triste o que vemos. Aquilo que era exercitado nos bastidores no terrível tratamento comum nas favelas, periferias e cinturões de pobreza da cidade agora é, de fato, exemplo a ser dado através dos meios de comunicação com toda pompa e circunstância. O esculacho passa a fazer, às claras, parte da conduta do estado. E o pior: passamos a aceitar isso como justo.
O que antes era um comportamento autoritário, humilhante, vergonhoso, hoje toma ares de educativo, de atitude exemplar – tudo sob o olhar cego dos gestores públicos, dos operadores do direito, do legislativo. Nenhuma palavra foi verbalizada; palavra muda.
São tempos de vingança, de ajustes de contas de todos com todos, uma catarse coletiva de proporções gigantescas, com consequências que não sabemos ainda mensurar nem aonde nos levarão. Mas, a cada dia, nos é sinalizado o recrudescimento do desrespeito do estado em relação aos seus membros, da falta de apreço pelo humano na interação de uns com o outros e as coisas a sua volta. A implantação do esculacho e da esculhambação como ferramentas pedagógicas é sinônimo de tempos perigosos.