Moradores das favelas de Ititioca, Igrejinha, Atalaia, Preventório, Caramujo e Grota, em Niterói, acordaram na manhã desta terça-feira, 16, com um arsenal de guerra na porta de suas casas. 3.155 homens da segurança, entre policiais civis e militares, Força Aérea, Marinha e Exército, realizaram uma megaoperação de repressão ao tráfico de drogas e à criminalidade. A presença das forças armadas foi estabelecida pelo decreto presidencial de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Especialistas em segurança pública da cidade, porém, condenaram o uso excessivo de poderio bélico.
Apelidada de “Dose Dupla”, a operação orquestrada foi resultado de seis meses de operação e faz parte do novo Plano Nacional de Segurança Pública, que promete coordenar ações conjuntas de combate ao tráfico e prevê o uso de todas as forças policiais e militares. O efetivo realizou cercos no entorno das favelas e montou barreiras para revistar os que transitavam em vias como a Ponte Rio-Niterói e a Estrada da Cachoeira.
Com 26 mandados de prisão, 2 de apreensão de menores e 34 de busca e apreensão, as forças policiais adentraram os morros durante todo o dia. Segundo informações da Secretaria de Estado de Segurança Pública, foram apreendidos seis carros, duas motos, oito carregadores de fuzil, dois coletes balísticos, três radiotransmissores, um quilo de maconha, 100 pinos de cocaína e material de contabilidade.
O tamanho da mobilização e os resultados da operação preocupam especialistas. Para a vereadora Talíria Petrone (PSOL-Niterói), a inclusão das Forças Armadas nesse tipo de ação repete um modelo de militarização da segurança pública que não funciona, como visto nas UPPs da cidade do Rio de Janeiro. “Para mim, o Rio de Janeiro está em guerra, mas é uma guerra com um alvo, a negritude”.
O especialista em Segurança Pública e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Lenin Pires concorda e aponta para a ausência de benefícios aos moradores destas áreas: “As instituições de segurança pública, numa sociedade democrática, devem estar preparadas para administrar conflitos, tendo como principio basilar a promoção de direitos igualitários e a predisposição de seus membros de proteger as integridades física e moral dos cidadãos”.
Apesar de o ex-ministro da Justiça e autor do plano Alexandre de Moraes afirmar que o orçamento seria realista, o gasto previsto com o envio de tropas ao Rio de Janeiro é de R$ 200 milhões. 8.500 homens patrulham as ruas até o fim do ano. Segundo o vereador Leonardo Giordano (PCdoB-Niterói), que foi membro da Comissão da Verdade e contribuiu na apuração dos crimes da Ditadura, 1/3 disso poderia manter programas qualificados de repressão à violência. “É um recurso do governo ilegítimo para ganhar legitimidade”, acusa.
Em nota, a Secretaria de Estado de Segurança qualificou a operação como “exitosa”.