Apesar da campanha contra a maior liderança politica do país, Cristina Kirchner, que teve sua candidatura presidencial inviabilizada, e da crise econômica gerada pelo governo de direita de Mauricio Macri, que com o FMI, mergulhou a Argentina em uma bolha inflacionária, o peronismo segue sendo a maior força política do país. A eleição presidencial é prova disso.
Contrariando todos os prognósticos feitos pela imprensa hegemônica, o candidato peronista Sergio Massa saiu vitorioso no primeiro turno das eleições presidenciais na Argentina, com quase 37% dos votos totais. Já a candidatura da extrema-direita, de Javier Milei, obteve menos de 30%.
Visando entender a importância desse resultado para o campo peronista, é necessário explicar o sistema eleitoral argentino, que possui previas para todo cidadão votar e onde as disputas internas acontecem em cada campo político para ver quem vai ser o candidato a presidente.
Como é a eleição na Argentina?
Esse processo, denominado PASO (Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias), ocorreu em 13 de agosto deste ano.
Diferente do que foi notificado pela grande imprensa, não houve uma grande vitória fascista e sim um triplo empate técnico, como previu Cristina Kirchner.
A extrema-direita de Milei, representada por La Libertad Avanza, obteve pouco menos de 30% dos votos totais, enquanto a direita de Juntos por el Cambio, de Patrícia Bullrich, atingiram 28% de votos.
Os progressistas do Unión por la Patria, liderados por Sergio Massa, obtiveram pouco mais de 27% de votos, uma disputa que revela uma diferença de 3%, entre o primeiro e o terceiro colocado.
Veja o resultado das prévias eleitorais argentinas
Esquerda sai na frente no primeiro turno
Após pouco mais de dois meses de campanha eleitoral, o primeiro turno foi realizado em 22 de outubro e mostrou uma contundente vitória do campo peronista.
Massa cresceu quase 10% em relação ao PASO, chegando perto de obter 37% do eleitorado total.
Milei manteve-se no mesmo patamar, chegando perto dos 30%.
Já Patrícia Bullrich sofreu forte queda, perdendo mais de 4%, ficando abaixo dos 24%, e fora do segundo turno.
Abaixo, o gráfico com o resultado das eleições presidenciais para o primeiro turno.
Peronismo sai vitorioso
Outro elemento que mostra a impressionante vitória do peronismo são os resultados para a Câmara dos Deputados e o Senado argentino. O peronismo se mantém como a maior força politica em ambas as casas e necessitará de pouco esforço para montar maioria para governar.
Diferente é a situação da extrema-direita, que obteve resultados pífios e precisará de um grande esforço para conseguir uma maioria para governar.
Fascistas não ganharam uma província sequer
O último elemento é o resultado das eleições para governadores, que mostra o tamanho da tragédia eleitoral para a extrema-direita e da força e enraizamento da cultura politica do peronismo na sociedade argentina.
Os fascistas não ganharam uma província sequer, enquanto os peronistas mantém-se governando várias, ganhando a principal delas já no primeiro turno, a província de Buenos Aires, onde vivem mais de 17 milhões de habitantes, ou seja, um terço da população do país. Uma vitória esmagadora do peronista Axel Kicillof.
Após o desastroso resultado para o campo fascista, um radical giro de narrativa foi feito por Milei, que, por meses, afirmava ser uma candidatura antipolítica, ou seja, contra as elites políticas que governaram o país nas últimas décadas.
Ele fez uma aliança com o ex-presidente Mauricio Macri, que governou de 2015 a 2019, o principal responsável pela crise econômica que atravessa o país, e com Patricia Bullrich, demonstrando a contradição total de seu projeto político e seu desespero ao tentar ampliar seu apoio eleitoral.
Rachas políticos na Argentina
Essa aliança acabou provocando grandes danos aos campos da direita e da extrema-direita. A direita da coalizão Juntos por el Cambio implodiu com a saída de importantes partidos políticos, que se recusaram a fazer um acordo com Milei e seu nefasto projeto, perdendo assim um número muito grande de deputados, senadores e governadores.
É perceptível, tanto na televisão e como nas redes sociais que, ao invés de estarem atacando Massa, estão digladiando entre si.
A sangria também afetou La Liberdad Avanza, de Milei. Apesar de ter poucos deputados, o partido já sofre com a debandada de alguns parlamentares que não querem fazer acordo com a chamada “casta política”, atacada pelo candidato de extrema-direita em sua campanha.
Campo peronista permanece unido
Enquanto isso, Massa e o campo peronista de Unión por la Patria mantêm-se unidos e coerentes com seu projeto político. Massa, por meses, vem defendendo sua proposta de unidade nacional, buscando dialogar com outras forças políticas para vencer o projeto fascista de destruição total do Estado.
A implosão facilita a vida de Massa, pois abre caminho para negociações com os diversos partidos políticos que romperam com a direita de Macri.
Esse cenário foi exposto na última pesquisa realizada pela Proyección Consultores, da Argentina, que aponta a liderança de Sergio Massa com 44,6%, dos votos totais, cabendo a seu oponente Javier Milei 34,2%, sendo que brancos e indecisos ficam com 21%.
Quem são os candidatos?
Sergio Massa é advogado e membro da Unión por la Patria, anteriormente chamada Frente de Todos, a atual coalizão política de tendência peronista e progressista que governa a Argentina desde 2019.
Inicialmente, foi membro e presidente da Câmara dos Deputados de 2019 até julho de 2022, quando deixou o mandato para ocupar o cargo de ministro da Economia no atual governo de Alberto Fernández.
Javier Milei é economista, líder do espaço político La Libertad Avanza. Desde 2021 atua como deputado nacional pela Cidade Autônoma de Buenos Aires, quando decidiu iniciar a carreira como político de extrema-direita.
No segundo turno, marcado para o próximo dia 19 de novembro, se enfrentarão duas visões de mundo opostas.
Duas visões de mundo claramente opostas
Massa, em seu discurso após conhecer os resultados oficiais que o colocaram em primeiro lugar nas preferências dos eleitores no primeiro turno, compartilhou alguns conceitos de como seria sua gestão caso se torne presidente.
Propôs convocar um governo de unidade nacional para abrir uma nova etapa institucional na política argentina e enfatizou o apelo aos melhores “independentemente da sua força política”, visando estabelecer os pilares das políticas de Estado.
Ele quer construir uma indústria argentina forte, contra aqueles que buscam a abertura indiscriminada de importações, e também mais educação pública gratuita, de qualidade e inclusiva.
O ministro disse que irá propor um regime trabalhista moderno, que abranja a tecnologia e a formação profissional, sem abrir mão dos direitos conquistados pelos trabalhadores argentinos.
Triste espécime de Bolsonaro argentino
A reação negativa ao nome de Milei está ligada, sobretudo, às suas ideias econômicas: ele defende a dolarização da economia, o fim do Banco Central e tem um forte discurso contra as medidas de cunho social.
Ele deixou explícito seu projeto que foi derrotado no primeiro turno: privatizações, corte de aposentadorias e pensões, eliminação de indenizações, de planos sociais e anulação do aborto legal, que é permitido na Argentina.
Por outro lado, quer leis brandas sobre armas e a legalização do mercado de órgãos. Sendo negacionista, não acredita no aquecimento global e reivindica a ditadura militar da Argentina, uma das mais cruéis da América Latina, com mais de 30 mil desaparecidos, os quais ele chama de terroristas.
“O Estado deveria ser responsável apenas pela segurança e pela justiça”, afirma Milei, deixando clara a sua preferência em transformar a Argentina num Estado policial repressivo.
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