Deixou de ser cansativo escrever sobre a realidade brasileira; é depressivo e ocioso, porque apesar de muito se falar e escrever não muda nada, só piora. Ontem o primeiro-ministro francês anunciou o fim dos voos entre os dois países e debochou porque somos o país que mais prescreveu hidroxicloroquina contra a pandemia em todo o mundo no ano passado, fato determinante para o avanço da pandemia e o nosso isolamento entre as nações.
Hoje a América do Sul preocupa o resto do mundo por causa do “país de dimensões continentais” e amanhã fronteiras se fecharão também às nossas commodities – quem se arriscará a importar do Brasil frango, soja, milho, algodão e outros produtos possíveis e prováveis portadores de algumas das nove cepas de coronavírus circulantes pela aglomerações e fanfarras promovidas pelo presidente da república?
Cairemos em desgraça definitiva quando a economia finalmente for ribanceira abaixo e nem auxílio de cem reais que seja chegará a quem está forçado à inatividade pela expansão da doença. No ano passado, quando cresceu a primeira onda da pandemia na Europa, governos puseram em prática planos de emergência que incluíam “lockdown” com dinheiro oficial repassado a empresas e trabalhadores para se sustentarem dentro de casa.
O Brasil, que tem mais dinheiro até do que a Itália para distribuir à população, continuou e continua a pagar juros da dívida, encher os cofres dos bancos e beneficiar a “ciranda financeira”, como se dizia, em detrimento da grande massa historicamente desamparada que só encontrou arrimo nas gestões petistas que, mesmo tímidas, promoveram instalação de infraestrutura e alguma distribuição de riqueza, tirando o país, inclusive, do Mapa da Fome ao qual retorna agora com o rabo entre as pernas, envergonhado. Que dizer da elevação à condição de sexta economia mundial conseguida com Lula? Hoje estamos ameaçados de não figurar mais entre as vinte maiores.
Batendo mais uma vez na mesma tecla, nossos problemas institucionais são antigos como a república que os militares resolveram proclamar porque tinham birra com o imperador desde antes da Guerra do Paraguai. Machado de Assis tem um personagem que ouve falar da proclamação andando na Rua do Ouvidor. Quando souberam da mudança não havia o que fazer, as pessoas correram ao palácio imperial e choraram junto às grades do jardim. O brasileiro amava D. Pedro II e ele levou consigo um pequeno saco com “terra do Brasil” onde nasceu.
Hoje continuamos sob tutela militar sem direito a voz nem veto aos absurdos que promovem no país alienando seu patrimônio, destruindo as raízes culturais, tornando-se novamente a “república de bananas” do pós-segunda guerra mundial. O Brasil que até há pouco era citado pela eficiência na vacinação em massa contra a poliomielite, com cem milhões de imunizações em um único dia, faz filas e ora por duas espetadas no braço para sobreviver à assustadora estatística de óbitos pela incúria proposital das autoridades maiores. Infelizmente.