O ministro Celso de Mello deve gostar de telenovela, principalmente as de época que a Globo costuma exibir no horário vespertino, aquelas em que a trama se arrasta e uma semana pode durar quinze capítulos, já que não têm muita relação com a vida da gente, a não ser por analogias e metáforas. Se assim não fosse, por que ele assistiria à gravação da reunião ministerial do dia 22 de abril nesta segunda-feira, 18, e só dirá se nós poderemos vê-la também, ou se tornará peça jurídica velada e vedada ao público, na sexta-feira, 22?
Vamos roer as unhas até o cotoco, em suspense que não cabe em novela das seis. Dúvidas várias: Jair ameaçou Sérgio por causa de Maurício? Ou por causa dos meninos? Ou por deformação da personalidade napoleônica e insana? O patriarca Abraham chamou os deuses do Olimpo de filhos de mulheres indignas e sujas, como ouviu Damares, a Pura? E Jair disse mesmo que chineses comem com pauzinho? Todo este suspense está mantido até sexta-feira, com a possibilidade de lá chegando o Decano decretar que o vídeo ficará em sigilo.
Convém falar um pouco do Decano Celso de Mello, cuja história foi contada por Saulo Ramos, advogado e ex-ministro de José Sarney, que o conheceu como um jovem muito dedicado na assessoria jurídica do Ministério da Justiça daqueles anos perdidos da década de 1980. Perdidos não se sabe por quem, pois para muitos foi a década de realizações importantes para toda vida. Um deles foi o jovem Celso, conhecedor das filigranas jurídicas e das leis escritas e consuetudinárias que foi indicado por Saulo a José para o Supremo Tribunal Federal, o Olimpo de que falei há pouco.
Terminado seu mandato presidencial, José se candidatou ao Senado pelo Amapá, porque seu partido lhe negou legenda pelo Maranhão. Mas cumpriu a lei, transferindo o domicílio eleitoral para Macapá. Entraram na justiça eleitoral por irregularidade e o caso foi até o Supremo onde Celso, então jovem, votou contra quem o nomeara – traição das traições!
Logo telefonou para Saulo explicando que se José dependesse de seu voto, o teria, mas como já estava garantida a vitória, votou contra só para desmentir a Folha de S. Paulo que havia antecipado seu voto favorável na véspera. “O senhor entendeu, doutor Saulo?”, indagou candidamente. E Saulo, dedo em riste, fulminou: “Entendi que você é um juiz de merda!”
Pois é no juízo deste Decano que dependemos para saber se vivemos ainda numa democracia, apesar de todos os percalços, ou se entregamos a alma a Deus e mergulhamos no Antigo Testamento, onde tudo era proibido e nem havia videoteipe.