Numa das muitas conversas que tenho com meu marido sobre diversos assuntos, ele contou-me sobre o dia em que estava tocando num evento costumeiro e percebeu um rapaz olhando insistentemente.
Tentou lembrar se conhecia de algum lugar e após constatar que não, deixou pra lá. Momentos depois um colega comentou que o tal rapaz era um policial e meu marido deu de ombros, afinal que importância teria aquela informação naquele momento? Policial, pedreiro, vendedor, advogado… Que relevância teria saber disso?
O colega, então, disparou: ” Você com essa tatuagem de carpa aí… Quem tem tatuagem de carpa é matador de polícia!”. Em primeiro lugar, sem muitos rodeios, por que tatuagem de carpa em branco é arte e em preto é sinônimo de matador de polícia?
ESTIGMA SOCIAL: é sua tatuagem, seu piercing, sua cor, seu cabelo, sua roupa, seu sotaque, seu estado civil, seu gênero, sua orientação sexual, sua religião, seu dinheiro (ou a falta dele), sua maternidade, sua favela e por aí vai. Racismo, preconceito, discriminação. Estigmas que perseguem, que segregam, que condenam e o final todo mundo já sabe.
Um estudo realizado por um policial militar da Bahia em 2012 aponta 36 tipos de tatuagem com características associadas ao crime. Embora tenha chegado a esta conclusão, ele diz que a intenção não é discriminar, mas apontar indícios de crimes em alguns casos específicos.
Leia a cartilha com as informações levantadas pelo policial aqui.
Ainda que estudos como esse tenham base, não é correto determinar quem uma pessoa é por suas características físicas. O ser humano vai além do horizonte alcançado pelos olhos.
A pergunta que ecoa é: Com que direito anulam a liberdade de expressão, de ser e estar na sua essência?
Chamam de rebeldia os atos de resistência. É necessário transpor, opor-se, ir de encontro, questionar. Eu me recuso a aceitar esse final que todo mundo já sabe.
Lembre-se, não é favor é cidadania.