A pandemia da Covid-19 trouxe a público o debate sobre a importância do isolamento social e de outras medidas voltadas à restrição da circulação de pessoas nas cidades, a exemplo do que vem ocorrendo na maior parte dos países, inclusive por recomendação da Organização Mundial da Saúde.
No Brasil, enquanto Estados e Municípios discutem estratégias para conter o crescimento do número de infectados, o Governo Federal defende a volta ao trabalho, o que vem gerando confusão e dúvidas na população sobre quais ações devem ser adotadas para frear o contágio pelo coronavírus.
Em busca de uma comprovação científica da importância do isolamento no combate à Covid-19, o engenheiro químico e professor do Instituto de Química da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Eduardo Lima, lançou mão de ferramentas da ciência de dados para acompanhar o comportamento do vírus em todo o Brasil. Desde março, ele faz levantamentos semanais sobre o avanço da doença, com base nas informações divulgadas pelo Ministério da Saúde, e demonstrou que o isolamento social é de fato uma forma eficiente de conter a propagação do vírus.
Em seu estudo, ele analisa os dados oficiais de óbitos por milhão de habitantes. Os resultados observados mostram uma tendência mais constante de achatamento da curva após a decretação das medidas restritivas. “Os casos vinham em uma crescente exponencial, mas o gráfico mostra que isso desacelerou, o que é a constatação científica e aferida por números de que o isolamento é eficaz”, diz o professor.
O estudo aponta, também, que, no Brasil, a diminuição da curva começou de forma mais tímida por volta do dia 3 de abril, acentuando-se a partir do dia 10 do mesmo mês. A comparação entre as regiões Norte e Sul evidencia o impacto positivo do isolamento social.
“Até o 11º dia após atingir uma morte por milhão de habitantes – o que na região Sul aconteceu em 12/4 e, na região Norte, em 15/4 -, ambas seguiam praticamente a mesma curva, no início apresentando uma taxa de aumento de cerca de 30% ao dia”, afirma Eduardo Lima.
“Com a adoção de medidas de isolamento, o Sul conseguiu frear o avanço da doença, ao contrário da região Norte, onde a população não respeitou tanto o isolamento social, como vimos em Manaus, que hoje vive uma tragédia”.
O Estado de São Paulo concentra quase 35% do total de mortes no país, com o maior número de casos e de óbitos. Mas, embora o Rio de Janeiro figure em segundo lugar, o professor alerta que o estado fluminense está em pior situação.
“A taxa de mortalidade no Rio é maior, pois São Paulo é um estado muito mais populoso”, atesta Lima. A boa notícia é que algumas cidades fluminenses conseguiram diminuir a propagação do vírus. Segundo o professor, Niterói, Itaboraí e Volta Redonda começaram a achatar a curva nas primeiras semanas de abril e hoje estão próximas a 60 óbitos/milhão de habitantes.