Na busca por projetos de teatro já existentes em favelas aqui do Rio de Janeiro, fica claro que a maioria das iniciativas nesse sentido são voltadas pra crianças e adolescentes. Isso pode ser reflexo da crença de que existe um limite de idade para que uma pessoa possa explorar seu potencial, descobrir uma paixão, uma vocação, se transformar – como se apenas crianças e adolescentes fossem passíveis de transformação.
Eu entendo que a probabilidade é maior, que é mais fácil. Elas são quase um papel em branco. É importantíssimo que se invista nelas, sem sombra de dúvida. Mas eu acredito, sim, que qualquer pessoa possa se transformar. Já me vi, em diversas situações ao lidar com pessoas mais velhas, refletindo sobre como tantos anos vivendo e pensando de determinada maneira soam irreversíveis.
Muito me intriga ver tantas pessoas a minha volta falando sobre o quanto não acreditam no ser humano, no quanto o ser humano é o problema do mundo, em como “cigarros fazem bem pro mundo porque matam pessoas” ou “prefiro bicho a gente”. As pessoas são a única possibilidade de mudança – são a solução mais do que o problema. E não só as crianças, que, por sinal, como os julgamentos citados esquecem, também são pessoas.
Lembro de uma aula de ética que tive um tempo atrás. Veio à discussão o fato de vermos muitas vezes, em famílias em situação de rua, serem as crianças que recebema missão de pedir dinheiro aos passantes. A questão na discussão era: “por que esses pais e mães usariam suas crianças pra pedir dinheiro?”. Mas o real ponto a se perguntar é: por que elas sentem que precisam fazer isso para ter uma chance de conquistar a empatia do próximo?
Por que os seres humanos, adultos, não conseguem mais ter empatia por outro ser humano adulto? Por que, ao bradarem que o ser humano é o problema do mundo, as pessoas esquecem que elas mesmas são esses seres humanos? Ou será que elas não esquecem?
No fundo, você acredita em si mesmo? Você se abstêm da sua responsabilidade diante do mundo em que você vive pelos mais diversos motivos (sem entrar no mérito de serem bons motivos ou não, afinal, cada um tem uma história). E assim, você perde também a sua crença no próximo.
Eu acredito nos jovens, acredito nos adultos. Eu não quero acreditar que só possa sentir empatia por uma criança ou, no máximo, por um velhinho, porque os vejo como vulneráveis. Não quero preferir animais porque são bonitinhos e porque são diferentes de mim. Sei que também sou responsável pelo mundo onde vivo e não quero me abster da minha responsabilidade. Acredito nas transformações porque as vivo na minha própria pele. E por isso acredito que o meu próximo pode se transformar. Pode ser a solução.
Isso não significa uma solução definitiva, uma solução mágica. Não se trata de uma solução que vai mudar o mundo todo no tempo de uma vida. Mas as pequenas transformações importam. Cada vida alterada, cada mundo mutado internamente já está operando uma mudança no mundo concreto. Talvez, muita gente perca a esperança porque olha pra tudo o que tem que ser feito e esquece que o caminho é feito dos pequenos passos, das pequenas lutas.