A noite de domingo, 24, foi de terror no Jacarezinho. O que foi feito pela Polícia Civil naquele dia na favela não pode receber outro nome: terrorismo.
A Civil deu uma batida em uma casa de festas na localidade de Morrinho. No local, acontecia uma “resenha”, com público composto por jovens e adolescentes – os organizadores, que foram presos, têm, em média, 20 anos. Chegou ao local em uma viatura à paisana. Quando se identificou, a equipe foi recebida a tiros. A ação acabou com um morto e dois feridos.
A partir daí, se iniciou o caos. Mais de 75 pessoas foram mantidas presas na casa de festas por mais de duas horas e meia. Isso inflamou os moradores da comunidade, ainda mais assustados ao chegarem ao local às escuras, graças aos tiros efetuados pelos policiais nos transformadores da rua.
O clima era de apreensão e prenúncio do caos. A sensação, estampada no rosto de cada um, era de que o pior ainda estaria por vir. Não bastasse o breu e a tensão, a total ausência de informações foi quase um crime psicológico cometido pelos policiais contra os pais, mães, tios, avós, maridos, namoradas e amigos dos detidos que ali estavam.
Eu e o também advogado Djfersson Amadeus, acompanhando lideranças evangélicas e o presidente da associação de moradores Leonardo Pimentel, tentamos estabelecer uma linha de contato com os policiais, em uma tentativa desesperada de passar notícias sobre quantidade de presos, feridos e até mesmo mortos ao moradores. O máximo obtido foi a informação de que estavam esperando o transporte, um microônibus, para levar os participantes da “resenha” para a delegacia para averiguação.
Após os detidos serem levados para a Cidade da Polícia, o calvário por informações continuou. Mais de 300 familiares se aglomeravam na porta da CidPol em busca de informações sobre os presos. O sofrimento só foi menor porque nos mantivemos a postos ao longo da madrugada, oferecendo todo o auxílio possível, inclusive recolhendo documentos dos detidos para levar a Polícia em uma tentativa de facilitar a identificação e a liberação.
Por volta das 4 h da madrugada, veio a posição final: todos seriam ouvidos e teriam seus antecedentes criminais verificados. Aqueles que não tivessem pendência com a Justiça e fossem apenas participantes do evento seriam liberados. Os organizadores e os donos da casa, porém, seriam presos em flagrante por fornecer bebidas a menores de idade, corrupção de menores, tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo. Nove pessoas foram presas e encaminhadas para a audiência de custódia na tarde dessa segunda-feira, 25. Continuam sendo acusadas dos referidos crimes, mas, ao menos, receberam o direito de responder em liberdade.
Em resumo, o caos da noite de domingo no Jacarezinho foi causado por uma batida policial em uma casa de festas, sob a alegação de que ali aconteceria consumo de drogas. Imagina se a moda pega? Não vai sobrar uma boate ou casa de shows na Cidade Maravilhosa.