O jornal The New York Times noticiou ontem, 7, que o presidente Donald Trump vai suspender o repasse da contribuição dos Estados Unidos ao fundo na ONU que mantém a Organização Mundial da Saúde.
Não é pouco: em 2017, o último ano com dados disponíveis, os EUA investiram US$ 111 milhões (R$ 580,3 milhões), de acordo com as regras da organização, mas contribuíram com US$ 401 milhões (R$ 2,1 bilhões) adicionais, de forma voluntária. A OMS tem orçamento de US$ 5 bilhões (R$ 26,1 bilhões) anuais.
Na retórica diversionista habitual, Trump atribuiu à organização total responsabilidade sobre a pandemia de coronavírus por que passam países ao redor de todo o planeta. E foi além ao insinuar com todas as letras que “eles” foram omissos, na melhor das hipóteses, em relação ao que acontecia na China: “Eles não viram! Como não se vê isso?! Eles não viram! Eles não relataram. Se viram – eles devem ter visto -, não relataram.”
Pelo Twitter, o presidente manteve o fogo: “Eles realmente estragaram tudo. (…) Vamos dar uma boa olhada. Felizmente, rejeitei o conselho de manter nossas fronteiras abertas para a China, no início. Por que nos deram uma recomendação tão deficiente?”
O ilusionismo oratório de Trump passa ao largo da sua reação inicial de rejeitar o isolamento social e tratar como gripe comum a pandemia em avanço sobre seu país, que constatou o primeiro caso no dia 21 de janeiro. Ele realmente fechou as fronteiras aéreas e marítimas com a China, mas só no dia 13 de março, 52 dias depois, declarou estado de emergência nacional.
Especialistas em saúde pública ouvidos pelo NYT disseram que esta atitude do presidente retardou a resposta do país, com testes lentos e falha no estoque de equipamentos de proteção.
Hoje, Donald Trump não enxerga a pirataria do seu país sobre carregamentos de máscaras, respiradores, ventiladores, macas, luvas e outros equipamentos para o combate à pandemia encomendados por outros países e desviados para os EUA, sob a alegação de que “o povo americano precisa deles”.
Mais uma vez o histriônico Trump desfila aos olhos da opinião púbica como o herói que lutou desde o início contra a praga, viu seu povo ser enganado, mas retomou o rumo da história ao assegurar sua proteção diante do perigo de contaminação.