O grupo Elas existem – Mulheres encarceradas realizou um encontro na última terça-feira, no auditório da Caixa de Assistência dos Advogados do Rio de Janeiro (CAARJ). O grupo chamou atenção para o encarceramento em massa de mulheres nos últimos anos e para as péssimas condições dos presídios femininos, consideradas ainda piores do que as dos presídios masculinos.
O auditório do CAARJ ficou lotado por conta do evento, onde também houve arrecadação de itens básicos de higiene para a Unidade Socioeducativa Professor Antonio Carlos do Degase e Hospital Psiquiátrico Penal Roberto Medeiros no Complexo do Gericinó em Bangu. As representantes do coletivo Elas Existem Caroline Melo e da Justiça Global Monique Cruz, a jornalista e autora do livro “Presos que Menstruam” Nana Queiroz e a advogada e membro da Comissão de Direito Penal do IAB Maíra Fernandes foram algumas das palestrantes do dia e discutiram o crescimento da população carcerária feminina, composta em sua maioria por mulheres negras e moradoras de favelas.
“É muito importante ver esse auditório cheio, pois percebemos que pouco tempo atrás ninguém falava dessa população como seres humanos, e sim bandidas que não mereciam dignidade. É importante perceber que a sociedade está incomodada com essa situação. Temos que humanizar todos os corpos que estão dentro daqueles lugares”, pontuou Monica Cunha, do Movimento Moleque.
Mulheres negras e moradoras de favela são mais vulneráveis
Segundo dados do Infopen Mulheres / Ministério da Justiça, 68% das presas é negra, 50% tem até 29 anos e possui o Ensino Fundamental incompleto. Dados como estes tornam ainda mais importante a emergência na discussão do sistema carcerário que aprisiona mulheres. “Ouvir, falar, dar voz, colher dados é extremamente importante. Trabalhamos pelo fim do encarceramento em massa, especialmente de mulheres”, afirmou a advogada e coordenadora do coletivo Elas Existem Caroline Bispo.
Monique Cruz, da Justiça Global, completou: “São espaços de fortalecimento mútuo para que avancemos na luta pelo desencarceramento de mulheres e homens no Brasil. Eu sou militante de favelas, e é essa população que sofre as principais reverberações desse modelo de segurança pública. Para além disso, eu sou negra, favelada e faço questão de que isso esteja explícito para as muitas mulheres negras que ainda não chegaram aos banco das universidade ou às mesas de debate, mas que, na verdade, são verdadeiras especialistas nos temas e que precisam ser reconhecidas como tal”.